A Stone acaba de reportar um primeiro trimestre em linha com as projeções do mercado — com uma continuidade da tendência de ganho de rentabilidade e expansão do volume processado.
A companhia da maquininha verde reportou um crescimento anual de 14% na receita líquida para R$ 3,1 bilhão, mas uma queda de 5% na comparação sequencial.
O volume processado (TPV) das PMEs cresceu 24% na comparação anual, mas também caiu na trimestral (-6,6%).
A queda em relação ao quarto tri tem a ver com a sazonalidade natural do setor: o quarto tri tem um consumo mais forte por conta do Natal e da Black Friday, o que aumenta o volume transacionado dos clientes da Stone.
O EBT e o lucro líquido ajustado da Stone tiveram um forte crescimento ano contra ano, com o primeiro subindo 85% para R$ 568 milhões, e o segundo, 90%, para R$ 450 milhões.
Os números vieram praticamente em linha com o consenso Bloomberg, que apontava um lucro líquido de R$ 445 milhões e um EBT de R$ 573 milhões.
O CFO Mateus Scherer disse ao Brazil Journal que o crescimento da rentabilidade teve a ver com dois drivers principais: o crescimento do volume, que continua expandindo 2x mais que o mercado; e o aumento da monetização, com a expansão do take rate.
O take rate do segmento de PMEs subiu de 2,39% no primeiro tri de 2023 para 2,54% agora. “A grande alavanca para essa expansão são os novos produtos,” disse o CFO. “No banking, tivemos uma expansão forte dos depósitos, de 53% ano contra ano, mais que o dobro da velocidade do TPV, e em crédito a carteira subiu 72% tri contra tri, para R$ 532 milhões.”
Na comparação com o quarto tri, os depósitos caíram 2,2% — o que, segundo Mateus, foi uma vitória.
“O cash in dos depósitos vem do TPV, então era esperado que o número caísse na mesma proporção do TPV pela sazonalidade desse trimestre. Mas enquanto o TPV caiu 6,6%, os depósitos caíram só 2,2%,” disse o CFO. “Isso mostra que está havendo um engajamento maior nas contas.”
No primeiro tri, a geração de caixa da Stone caiu de forma brutal, de R$ 499 milhões no ano passado para apenas R$ 87 milhões este ano.
Mateus disse, no entanto, que há dois fatores que explicam essa queda. Ano passado, a companhia teve um ganho de caixa de R$ 218 milhões com a venda de sua participação no Inter e, neste trimestre, teve um desembolso de R$ 193 milhões com a expansão de sua carteira de crédito, que saiu de R$ 319 milhões no quarto tri para R$ 532 milhões no final do primeiro tri.
Excluindo esses dois fatores, a geração de caixa dos dois trimestres teria sido praticamente equivalente.
A expansão da carteira de crédito da Stone tem se dado apenas com o empréstimo para capital de giro, segundo o head de crédito da companhia, Gregor Ilg. A companhia começou a testar um cartão de crédito para pequenos empreendedores e lojistas no terceiro tri, mas a representatividade desse produto na carteira ainda é ínfima.
A inadimplência parece sob controle. O NPL 90 dias fechou o trimestre em 1,4% em comparação a 0,3% do quarto tri, e o NPL 15 a 90 dias ficou em 2,2%, contra 2% do tri anterior.
“Obviamente esse não é o patamar final da carteira. Esse valor está refletindo a fase de ramp up da carteira e tem espaço para aumentar. Mas a perda esperada está dentro do projetado e deve ficar abaixo dos 10%,” disse Gregor.
Segundo ele, o indicador ‘Over30 Mob3’ — que mostra os clientes que estão com atraso de mais de 30 dias depois de 3 meses da concessão — continua entre 3% e 4% para todas as safras, “em linha com o que falamos no Investor Day.”
O CFO disse que o crédito já tem alguma representatividade no resultado da empresa, mas ainda muito pequena para o tamanho da Stone.
“O crédito vai passar a ter uma representatividade maior quando a carteira estiver maior, mas principalmente quando a velocidade de crescimento for menor, porque pela regra contábil toda provisão para perda esperada vem na cabeça. Então nesse momento de forte crescimento estamos tendo provisões grandes,” disse ele.
A vertical de banking, por outro lado, já deve ter uma representatividade grande no resultado este ano. Com os R$ 6 bi de depósito e considerando uma taxa de juros de 10%, a Stone já teria um EBT anual de R$ 600 milhões — já que ela não remunera esses depósitos.
Aplicando uma alíquota de 22%, o lucro líquido anual dessa vertical já seria de R$ 468 milhões.
Sobre o segundo trimestre, o CFO disse que a dinâmica do mercado continua parecida, com uma competição mais racional. A grande diferença deste tri será a tragédia ambiental do Rio Grande do Sul, que deve gerar algum impacto no resultado da companhia.
Segundo Mateus, o Estado representa cerca de 5% do TPV da companhia.
“Não deve ser um impacto tão relevante para o resultado, mas pode ter algum impacto no crescimento do TPV,” disse.