As ações da Stone estão rolando ladeira abaixo — uma queda de 13,5% na Nasdaq, negociadas a US$ 21,95, a poucos minutos do final do pregão — e pela primeira vez devem fechar abaixo do preço do IPO, que contou com investidores-âncora do calibre de Warren Buffett e Jack Ma.
Os papéis da companhia saíram a US$ 24 numa oferta inicial espetacular no fim de outubro, e dispararam mais de 30% no primeiro dia.
Mas desde então, foram abatidas numa tempestade perfeita que inclui uma correção no setor de tech nos Estados Unidos (levando a um de-rating de pares internacionais), e a expectativa de uma concorrência cada vez mais irracional no Brasil, onde a Cielo decidiu cortar os preços e declarou guerra para defender seu mercado.
Num dia em que o Nasdaq cai quase 3%, a Square – considerada o benchmark do setor – recua cerca de 10%, e já perdeu mais de 30% do valor nas últimas duas semanas, desde a divulgação de crescimento abaixo do esperado no terceiro trimestre e previsões mais modestas para o restante do ano.
Mas entre as empresas brasileiras, onde a competição virou uma guerra de trincheiras, a narrativa é ainda mais complexa. Os investidores estão cada vez mais convencidos de que a guerra de preços vai reduzir o ‘profit pool’ da indústria como um todo e comprimir a rentabilidade.
As empresas brasileiras de meios de pagamento tem uma margem EBITDA em média de 53%, contra 40% das americanas, segundo dados do Credit Suisse.
A PagSeguro cai 9,5% na NYSE e a Cielo perdeu 5% na B3, fechando o dia em R$ 9,26.
O tombo da Stone vem no dia em que os bancos encerraram a quarentena pós-oferta e iniciaram a cobertura do papel.
Das seis instituições que soltaram relatórios, três recomendam compra: BTG, Morgan Stanley e Citi. O JP Morgan e o Goldman Sachs têm recomendação neutra e, num movimento pouco comum para inícios de cobertura, o Credit Suisse aconselhou venda.
Cético com todo o setor, o CS cravou um preço-alvo de US$ 20 por ação e rebaixou também a recomendação de Cielo de neutra para venda, com um preço-alvo de R$ 9, prevendo potencial de desvalorização mesmo depois do tombo de mais de 60% do papel no ano.
Segundo a equipe liderada por Lucas Lopes, ao cortar em cerca de 20% a 30% suas taxas por transação, a Cielo se igualou ao preço da Stone – e deve forçar a concorrente a baixar ainda mais o MDR para continuar ganhando share.
Mesmo nesse cenário, o banco prefere os papéis da adquirente controlada por Banco do Brasil e Bradesco em relação à Stone. O argumento: ainda que venha crescendo em ritmo acelerado, não faz sentido a Stone ter um valor de mercado 41% maior que o valor implícito da adquirência da Cielo (excluindo a Cateno, o negócio de gestão e emissão de cartões), apesar de processar apenas 15% do volume da concorrente.
O JP Morgan também enaltece as vantagens competitivas da Stone – a qualidade superior do produto e o grande poder da rede de distribuição são consensos entre os analistas. Mas avalia que o preço é o rei no setor – e que, portanto, as margens devem ser comprimidas. A recomendação é neutra, com preço-alvo de US$ 25 por ação.
O banco fez uma pesquisa qualitativa com 200 comerciantes, em cinco regiões, e constatou que 95% dos clientes da Stone fizeram sua escolha com base em preço.
Segundo o JP, a companhia está fazendo o melhor trabalho em oferecer adquirência associada a softwares de gestão: 35% dos clientes da Stone na amostra consultada pelo JP utilizam o software proprietário do grupo, contra um índice quase nulo das demais operadoras.
A oferta agregada de software – uma estratégia bem sucedida na Square – vem sendo perseguida por todos os players do setor porque oferecer serviços que agregam valor ao negócio tende a aumentar a fidelização. Mas a aposta é que esse movimento de ‘descomoditização’ não será suficiente para conter o impacto da derrocada dos preços.
A Stone ainda é negociada a cerca de 30 vezes o lucro estimado para 2019, contra 20 vezes da PagSeguro e 10 vezes da Cielo.