A Stone subiu quase 20% na Nasdaq no pregão de hoje.

O lucro do quarto trimestre foi maior que o esperado, o churn (a rotatividade de clientes) diminuiu, e o ‘take rate’, a taxa cobrada por transação, se manteve.

Mas o que fez as ações disparar foi o discurso do CEO Thiago Piau em relação às possibilidades da empresa fora de seu mercado ‘core’ de pagamentos.  No call com investidores, a Stone detalhou que vê um mercado endereçável cinco vezes maior em banking, crédito e softwares de gestão para o varejo.

Desde as conversas pré-IPO, a Stone bate na tecla de que vê o setor de pagamentos como o primeiro passo para desintermediar os bancos e que aposta na oferta de serviços agregados para não precisar entrar numa guerra de preços num segmento cada vez mais comoditizado.

Mas ontem à noite, a companhia abriu o quimono.

Nas contas da Stone, enquanto o mercado de acquiring no Brasil é de R$ 20 bilhões, ela está caminhando em direção a outros mercados: R$ 75 bilhões em crédito, R$ 10 bilhões em serviços bancários para pequenos e médios negócios, e outros R$ 9,5 bilhões em softwares para gestão de varejo.

A Stone abriu ainda como estão os avanços – ainda incipientes – em cada uma das áreas.

A empresa afirmou que já começou um projeto piloto em serviços bancários, com o ContaStone, uma app que permite transferências, pagamentos e emissão de boletos, atualmente rodando em 2,5 mil clientes. A ideia é que o dinheiro que entra nas maquininhas nem precise ser transferido para algum banco – e que todos os serviços sejam realizados no ambiente, com taxas mais amigáveis para operações como DOC e TED, por exemplo.

Outros 14 mil clientes já usam algum software integrado com os serviços da maquininha, entre soluções voltadas para reconciliação bancária (que, grosso modo, fazem o caixa bater com o valor processado com a maquininha), programas de gestão para empresas de alimentos e outras soluções.

A Stone anunciou ainda a compra da Collact, um software de Customer Relationship Management (CRM) voltado para PMEs que permite que elas mantenham programas de fidelidade – dando descontos para tipos de clientes específicos, em determinada faixa etária ou com frequência de compra.

O mistério foi mantido na oferta de crédito: a apresentação diz apenas que a empresa vai prover crédito ‘seletivamente’ com base nos dados e na proximidade com os lojistas, e ‘repassando o risco a um parceiro’.  

Além de aumentar as receitas, a oferta de novos serviços é considerada um fator crucial de retenção no setor de adquirência – com mais produtos associados, o cliente tem menos disposição de mudar para a concorrência apenas pela oferta de preço menor.

A Stone já havia divulgado uma prévia operacional em janeiro, mas ainda assim o lucro ficou 11% acima do consenso de mercado.

O número de clientes dobrou na comparação ano a ano e o valor total processado avançou 74% (ajustando pelo número de dias úteis, o crescimento foi maior que no terceiro trimestre).

Depois de rolar ladeira abaixo no fim do ano passado com os temores de guerra de preços no setor e solavancos na Nasdaq, a ação da Stone está numa trajetória explosiva de recuperação desde janeiro.

Com a esticada de 18,4% desta terça, as ações mais que dobraram no ano. A empresa já vale US$ 11,5 bilhões, 22% a mais mais que a PagSeguro e 50% a mais que a Cielo – que lucraram 3 e 10 vezes mais que a companhia no ano passado, respectivamente.

Nas contas do BTG, a Stone já negocia a um múltiplo de 18 vezes a receita estimada para 2019 e 13 vezes para 2020, com um prêmio até mesmo em relação à americana Square, considerada o benchmark do setor.