Gustavo Tachibana e Pedro do Val recentemente fizeram uma reunião com dois acionistas de uma grande empresa que estão no meio de uma briga envolvendo R$ 4 bilhões.

A conversa, marcada para focar no negócio, acabou virando quase uma sessão de terapia — e durou mais de quatro horas. 

Gustavo Tachibana ok“A psicologia sempre é o mais difícil. A gente sempre tenta desenhar o perfil de cada pessoa para entender a situação pessoal de cada um e por que a briga está acontecendo: ‘teve algum desconforto pessoal? Como é a relação entre vocês?’”, Gustavo disse ao Brazil Journal.

Foi justamente para desatar este tipo de nó – que vai de brigas societárias a inventários enrolados, de RJs a falências mal resolvidas – que Gustavo criou em setembro do ano passado a RPC – acrônimo de ‘resolver problemas complexos’.

Os problemas que aparecem na  RPC podem estar no ‘andar de cima’ — a família e os acionistas — ou no andar de baixo — a companhia. Para resolvê-los, a RPC ataca a questão por três ângulos que se complementam: o jurídico, o financeiro e o psicológico. 

“A estruturação financeira e jurídica já fizemos um monte de vezes e sabemos como fazer para o deal parar de pé,” disse Pedro, que entrou na empresa como sócio há quatro meses. “O que pega mesmo é a relação entre as pessoas. Esses são os nós mais difíceis de desatar.”

Os dois têm bagagem em lidar com problemas cabeludos. 

Pedro foi sócio do BTG por nove anos, atuando na área de special situations do banco de André Esteves. Liderava as áreas de liquidações, falências, recuperações judiciais e precatórios, além de ter criado uma pequena operação de compra de cotas de consórcios no mercado secundário. 

Antes, havia trabalhado mais de seis anos como advogado do BMA, na área de arbitragem e contencioso cível. 

Já Gustavo foi por seis anos sócio da Makalu Partners, outra casa de special sits, depois de ter passado cinco na área de M&A e reestruturação de empresas do Rothschild & Co. 

Os outros dois sócios são Fernando Falbel, que trabalhou brevemente na gestora de venture capital Battery Ventures, em Israel; e Bruno Matos, que teve uma breve passagem pelo Matos Advogados, um escritório de Recife fundado por seu pai e especializado em RJs. 

O grande case da RPC até agora é a mediação do imbróglio da Casas Pernambucanas, onde Gustavo e Pedro lidaram com os 35 acionistas da companhia, conseguindo resolver um conflito que se arrastava desde a década de 80.  

A RPC passou quase nove meses trabalhando sem mandato, e só na reta final fechou um contrato com os acionistas. 

“Tem casos que se você coloca uma proposta na mesa de cara, o cliente nem olha. Você tem que começar a costurar as pontas visando um acordo lá na frente e tomando o risco do negócio,” disse Gustavo. “Nessas situações, é preciso mostrar que existe uma ponte e que uma solução é factível, antes de falar de dinheiro.” 

Pedro do Val ok 1Gustavo diz que a RPC se vê como uma boutique de alta costura, atacando poucos casos por ano – e apenas situações realmente complexas. 

Hoje a empresa está atuando em dez casos, dos quais dois envolvem discussões de inventários bilionários que estão parados há anos. 

A empresa está trabalhando para um cliente interessado em prover um financiamento estruturado para um país emergente; para o controlador de uma grande empresa que quer comprar um sócio minoritário com quem tem uma briga histórica; e para acionistas em outro acordo nos moldes da Pernambucanas; além de uma grande falência.

Para criar seu pipeline, a RPC mapeou todas as grandes brigas familiares e societárias do Brasil e abordou os advogados que cuidam desses casos. 

“Nosso trabalho é em consonância com o desses advogados, para tentar resolver uma situação que ele já está olhando há 10, 20 anos, mas com uma óptica diferente. Normalmente, precisa de um fato novo ou de uma pessoa nova para destravar essas situações.”

A RPC negocia um fee no sucesso de cada operação, e, em muitos casos, faz a ponte com fundos de special situations que colocam o dinheiro necessário para resolver o impasse. 

“Tem deals que a gente olha e fala: ‘Esse não é para essa gestora, mas para aquela outra, porque ela tem um fit com esse negócio, seja porque já fez operações nesse setor, seja porque tem um passivo mais flexível’,” disse Pedro. “Tem investidores que, havendo uma relação de risco-retorno boa, podem entrar em qualquer coisa porque o passivo é muito flexível. Já outros precisam dar os 25% em dólar para o cotista…”