A agência de risco Standard & Poor’s acaba de cortar a nota de risco do Brasil para ‘junk’ (‘lixo’, numa tradução literal).
A decisão, já esperada há muito, significa que o Brasil perdeu o grau de investimento obtido em 30 de abril de 2008, no auge de um boom econômico que se transformou em implosão, e deve aprofundar a crise política e financeira, forçando empresários, políticos e o Planalto a agir.
Além de cortar a nota — o selo de qualidade que muitos investidores internacionais precisam para investir no Brasil — a S&P ainda disse que a perspectiva para o risco brasileiro é ‘negativa’. Em outras palavras: a nota ainda pode ser cortada em mais um degrau nos próximos meses.
A S&P diz que as chances de mais um corte estão “acima de 33%” devido a três fatores: uma piora ainda maior das contas públicas, “potenciais reversões importantes na política econômica” (um recado para o recente enfraquecimento de Joaquim Levy e o fortalecimento de Nelson Barbosa na formulação econômica?), ou ainda devido a uma “turbulência econômica ainda maior” do que a agência espera hoje.
A decisão mostra que até mesmo as agências de risco — até agora complacentes com os desvios de curso e retardatárias na avaliação do cenário — perderam a paciência com a incapacidade do País de corrigir uma trajetória fiscal preocupante e implementar reformas que possam ressuscitar o crescimento pelo menos a longo prazo.
Amanhã, a Bolsa, o dólar e os juros vão reagir ao anúncio feito esta noite, quando os mercados já estavam fechados.
A nota do Brasil amanheceu o dia como BBB- e vai dormir BB+.
Na Bolsa de Nova York, em negociação fora do horário regular (e portanto com baixo volume), uma cesta de ações brasileiras, o EWZ, cai 4%; o ADR da Petrobras cai 5%. (A empresa já tinha perdido o grau de investimento quando seu risco era analisado sem a garantia do Governo; agora, com o País se tornando ‘junk’, o custo para a Petrobras levantar dinheiro lá fora vai aumentar ainda mais, provavelmente forçando a empresa a fazer um aumento de capital, prejudicando todos os seus atuais acionistas.)
No Brasil, costuma-se dizer que o País só corrige seu rumo depois de bater no fundo do poço. Se isto for mesmo verdade, pelo menos o fundo do poço começou oficialmente hoje.