O Softbank está fazendo o spinoff de seu fundo de early stage na América Latina, dando origem a uma nova gestora – a Upload Ventures.
A nova firma será controlada em partes iguais por Rodrigo Baer e Marco Camhaji (que tocavam o fundo de early stage desde seu início, em setembro), além de Norberto Giangrande, que está se juntando à firma como um operating partner.
Com a separação, o Softbank – que detinha 100% da general partnership e havia declarado o compromisso de investir US$ 100 milhões por ano – vai se tornar um limited partner.
O Softbank está aportando os investimentos feitos nas 12 investidas que já fazem parte da carteira do fundo, e – por meio de acordos envolvendo o carry e outros direitos – os sócios não farão nenhum desembolso.
O movimento é mais um pivot do Softbank em relação à América Latina depois da saída de Marcelo Claure, o COO do grupo e o arquiteto por trás da operação na região. Como parte das mudanças, o Softbank também colocou o Latin American Fund dentro do Vision Fund.
O spinoff também resolve uma questão que havia se apresentado desde o primeiro dia: no ecossistema do Softbank, havia preocupação de que o fundo de early stage poderia investir em empresas que mais tarde se revelariam concorrentes das investidas do Latin America Fund.
A Upload, que começou a funcionar hoje, já está em conversas com investidores para captar recursos, num mercado onde a Selic a 12% se traduz em menos apetite a risco. A gestora planeja fazer cheques entre US$ 1 milhão e US$ 10 milhões e investir em mais 18 startups neste primeiro fundo.
“Temos dry powder para fazer alguns investimentos ainda, mas é pouco e queremos fazer um fundo maior,” Marco disse ao Brazil Journal. A gestora espera fazer o first closing “relativamente rápido.”
A Upload Ventures – que já nasce com um portfólio que inclui empresas como Digibee, Salú e Medway – está vendo oportunidades em empresas latinoamericanas com negócios escaláveis globalmente e no mercado de software as a service (SaaS), cujos múltiplos voltaram à sua média histórica depois da correção da Nasdaq.
Historicamente, as empresas de SaaS brasileiras têm sido avaliadas em rodadas privadas a múltiplos de 8x a 12x o annual recurring revenue (ARR). No pico da pandemia, esse múltiplo disparou – seguindo o mercado americano – com algumas rodadas saindo a 25x-30x no Brasil.
“As coisas estão voltando ao normal,” disse Rodrigo.
Outro vento a favor é a redução da liquidez no mercado de growth equity com os hedge funds – investidores relevantes deste espaço – começando a arbitrar entre os valuations de rounds privados e os das empresas listadas, favorecendo as últimas.
“O resultado disso é que as empresas em fase de growth vão ter mais dificuldade para captar nos próximos meses e vai haver muitos layoffs,” disse ele. “Isso vai liberar talentos muito bons (e com experiência em escalar) para as empresas de early stage.”
Rodrigo é mais conhecido por sua carreira na Redpoint eVentures, da qual foi sócio mais de sete anos e onde conheceu Marco, que era o CFO da gestora e já havia trabalhado como CFO da Movile, além de ter fundado sua própria gestora, a Yellow Ventures, junto com Patrick Sigrist e com o próprio Norberto.
Norberto é mais conhecido no mercado por ter fundado a Link, a corretora vendida ao UBS, a Rico, vendida para a XP, além de ter sido chairman da Easynvest, que recebeu um investimento da Advent e acabou vendida ao Nubank.
A nova gestora entra num espaço disputado por nomes como Canary, Maya Capital, Domo Invest e Astella Investimentos, que tipicamente fazem cheques de até US$ 3 milhões.