A Smiles está tirando o sorriso do rosto de seus acionistas, acostumados a receber quase 100% do lucro da empresa como dividendos.
No ano que vem, quando pagar os dividendos relativos a este ano, a Smiles só distribuirá 25% do resultado.
A decisão deve pesar nas ações da companhia de fidelidade no pregão de hoje, mas a magnitude da queda vai depender da capacidade do CEO Leonel Andrade de tranquilizar a base de acionistas sobre a nova destinação que a empresa dará ao seu caixa.
No Fato Relevante de ontem à noite, a Smiles foi genérica. Disse que “está trabalhando para melhorar suas operações e relocar capital para oportunidades de maior retorno esperados”.
Mas no livro-texto de finanças corporativas, a tradução é clara: a companhia está se preparando para fazer um grande investimento — muito provavelmente, uma aquisição.
Notando que a Smiles hoje tem R$ 667 milhões em caixa líquido e gera cerca de R$ 700 milhões em caixa por ano, os analistas do BTG fazem a pergunta que passará a ser a grande especulação do mercado: “Que tipo de oportunidade demandará um capital tão grande?”
Em outras palavras: o que a Smiles quer comprar?
Há um ano e meio, Leonel disse que sua estratégia era transformar a Smiles de uma empresa de fidelidade em uma “empresa de turismo”. Pela lógica, um bom começo seria comprar uma operadora de viagens — como a CVC, que vale R$ 7,7 bilhões na Bolsa.
A ideia é velha. Em 2015, o Carlyle, então controlador da CVC, ofereceu a operadora de viagens à Smiles, mas o negócio não foi adiante. Na época, a visão de Andrade e da Gol era que, para manter seus pacotes de viagens competitivos, só uma CVC independente continuaria tendo poder de barganha com todas as companhias aéreas; o controle pela Smiles (e indiretamente pela Gol) poderia destruir valor na empresa.
Uma ideia mais original seria comprar empresas que dependem menos de pacotes, como o Hotel Urbano ou a Decolar.com, ambas online travel agencies. O Hotel Urbano depende quase exclusivamente de hoteis (e não de aéreas), enquanto, na Decolar, as aéreas são cerca de 60% do negócio e os hoteis, 40%.
Há algumas semanas, o BTG fez um relatório para clientes chamando atenção para as sinergias entre as agências online e os programas de fidelidade. O título do relatório de 21 páginas era: “OTAs + loyalty programs: a marriage made in heaven.”
Entre outras coisas, dado que apenas 20% dos brasileiros são membros de programas de fidelidade, a compra de uma agência online permitiria à Smiles aumentar seu ‘brand awareness’. As OTAs têm, em geral, audiências na web e alcance nas redes sociais substancialmente maiores que programas de fidelidade e cartões de crédito. Além disto, metade dos portadores de cartão de crédito não são membros de programas de fidelidade, ainda que sejam elegíveis para isto.
No entanto, o relatório não fala de potenciais aquisições — apenas das parcerias atuais, que envolvem acúmulo e troca de pontos. A Smiles tem uma parceria com a Rocketmiles, da Booking.com, e a Multiplus tem parcerias com Booking e Expedia.
Desde 2013, a Smiles já retornou R$ 2,8 bilhões a seus acionistas na forma de dividendos, juros sobre capital próprio e reduções de capital.