Depois de comprar a fabricante de papelão São Roberto em 2013, a Irani Papel e Embalagens enfrentou turbulência pesada: a dívida explodiu — a alavancagem bateu quase 7x — e a ação ficou praticamente esquecida na Bolsa, com liquidez mínima. 

No ano passado, ela começou a estancar a sangria: vendeu ativos, reduziu a dívida e contou um pouco com a sorte (o reconhecimento de um crédito de mais de R$ 120 milhões do PIS/COFINS que começa a entrar este ano no balanço).

O último passo do turnaround: um re-IPO concluído no mês passado e que injetou R$ 400 milhões no caixa da empresa. 

O dinheiro da oferta posiciona a Irani para colocar em marcha uma série de projetos que jaziam há anos guardados na gaveta — e que podem levar a empresa a um novo patamar, transformando-a, na visão mais otimista, numa ‘mini-Klabin’. 

O principal deles: a construção de uma caldeira de recuperação que vai permitir usar o licor preto (um subproduto da extração de celulose) para produzir energia. 

Este insumo, de grande poder calorífico, era desperdiçado pela Irani até agora. Com a construção da caldeira  — que deve ficar pronta em 2023  — a companhia conseguirá zerar sua dependência de energia, hoje em 50%, tornando-se autossuficiente como as principais empresas do setor (Klabin, Suzano e Eldorado). 

“Cerca de 11% de todo o custo da produção do papel de embalagem é energia, e esse custo deixará de existir,” diz Pedro Marco, analista da Reach Capital, uma das gestoras que participou do re-IPO.  

A Irani também vai aumentar em 50% a capacidade de sua fábrica em Santa Catarina, aproveitando uma demanda crescente de frigoríficos da região por papel ondulado (usado para fazer as caixas que transportam as carnes). Empresas que operam na região — como JBS, Aurora e BRF — estão tendo que trazer caixas de outros lugares. O projeto vai demandar R$ 130 mi e deve ficar pronto em 2022. 

“Quando todos esses projetos maturarem, em uns 6-7 anos, essa empresa pode facilmente ter um EBITDA de R$ 470 milhões, o dobro do que ela deve fazer este ano,” diz Marco. 

No roadshow da oferta, a Irani disse que só o projeto da caldeira deve incrementar sua margem EBITDA em 7 pontos percentuais ao longo dos próximos três anos. Segundo a empresa, a economia pode começar antes de 2023, já que partes da caldeira devem ficar prontas antes do prazo.  

Apesar das perspectivas positivas, a Irani “não é nenhuma barganha”, na visão de um gestor que acompanha o setor e decidiu não participar da oferta.

“O desconto em relação à Klabin é muito baixo —  ainda mais considerando os riscos de execução dos projetos,” disse ele. “Não se paga tão na frente por um projeto de transformação dessa magnitude.” 

Nas contas desse gestor, a Irani negocia a um EV/EBITDA de 7x para este ano. A Klabin negocia a cerca de 10x, mas seu múltiplo histórico gira em torno de 8x.

“É uma história interessante de transformação e eles melhoraram muito a estrutura de capital nos últimos anos, mas esses projetos são muito ‘long tail’… Só vou começar a precificar quando tiver mais próximo de terminar.”   

Hoje, a Irani vale cerca de R$ 1 bilhão na Bolsa e negocia a R$ 4,50, o mesmo preço em que saiu no re-IPO.

A empresa opera principalmente em dois negócios: o papel ondulado e o papel para embalagens. Ela também exporta uma resina extraída do pinus e que é usada, por exemplo, para fazer esmalte de unha (essa vertical representa 10% da receita). 

Na época da oferta, muitos gestores sequer olharam a empresa dada a baixa liquidez do papel — ele negocia em média R$ 200 mil/dia. Mas Marco, da Reach Capital, acha que a migração para o Novo Mercado e o início da cobertura da empresa pelos bancos pode aumentar a liquidez para cerca de R$ 3 milhões/dia. 

Outro ponto de atenção: a figura do controlador, o empresário gaúcho Péricles Druck. 

Em 2015, Péricles foi investigado na operação Moeda Verde, da Polícia Federal, acusado de pagar propinas em licitações para a construção de empreendimentos na praia de Jurerê Internacional, em Florianópolis.

“Mas ele já não participa mais do dia a dia da empresa e a Irani tem melhorado muito a governança, com a indicação de bons conselheiros independentes.”

Com a oferta, a participação de Péricles na companhia caiu de 88% para cerca de 57%.

“A Irani pode se tornar uma empresa que gera muito caixa e que vai poder expandir para outras geografias ou distribuir muito dividendo,” diz Marco. “Parecido com a Klabin antes do projeto Puma.”

Mas, assim como no caso da Klabin-Puma, o investidor terá que ter muita paciência.