Depois de um ciclo de expansão que mais do que triplicou a receita e o EBITDA da Simpar nos últimos três anos, a empresa está entrando numa fase que será marcada, de um lado, por menor crescimento, de outro, por ganhos de eficiência e desalavancagem. 

Essa foi a principal mensagem da holding que controla a JSL, Movida e Vamos em seu Investor Day, que aconteceu hoje cedo em São Paulo.

11745 f8c2799c b120 e06e 976b 4042aa2624e9A ação sobe 3,2% agora à tarde, num dia de alta do mercado. 

De 2020 até hoje, a Simpar aumentou sua receita bruta de R$ 10 bilhões para R$ 34 bilhões, e seu EBITDA de R$ 2,3 bi para R$ 8,2 bi. 

“Agora vamos ter um foco muito grande na eficiência, com a máxima captura de valor dos ativos que criamos,” o CEO e controlador Fernando Simões disse no evento. “O crescimento é possível, mas como consequência. Somos feitos de prioridades e hoje a escala já está construída.”

O empresário notou, no entanto, que as empresas do portfólio estão em momentos distintos e terão estratégias diferentes. 

Na Movida e na Vamos — as empresas de aluguel de carros e de caminhões, respectivamente — “o momento é de extrair valor do que já foi construído.” 

Já na JSL — que faz serviços de logística — e na Automob — a rede de concessionárias de veículos leves — ainda há muitas oportunidades de consolidação de mercado, seja organicamente ou por aquisição, disse Simões.

A Simpar também é dona da CS Infra – a empresa de infraestrutura que é dona de concessões de portos, rodovias e de um centro de tratamento de resíduos – e do BBC, um banco que tem atuação complementar ao negócio, financiando as transações dos clientes. 

Simões também disse que a Simpar está focada em reduzir fortemente a dívida que está dentro da holding, que hoje soma R$ 3,7 bilhões. “Isso vocês vão ver acontecer!” disse. “E com o tempo, no médio prazo, pensamos até em zerar a dívida da holding.” 

O CEO disse que a Simpar considera diversas alternativas para desalavancagem, incluindo a associação ou fusão com ativos não-listados, ou até a listagem de suas empresas privadas. 

O CFO Denys Marc Ferrez tentou convencer os investidores de que a dívida consolidada da companhia – o grande red flag para o buyside – não é tão grande quanto parece. A dívida — que soma o endividamento de todas as empresas do portfólio — estava em R$ 31 bilhões no final do terceiro trimestre, ou 3,7x o EBITDA dos últimos 12 meses.

“A alavancagem financeira aparente, para efeitos de covenants, é muito maior do que a alavancagem de fato do negócio,” disse ele.

Para provar essa tese, ele fez três exercícios hipotéticos. 

No primeiro, tentou mostrar que a empresa tem uma série de ativos altamente líquidos, que, no entanto, o mercado não considera como caixa na conta da alavancagem. 

Ferrez disse que o valor presente líquido desses ativos que serão vendidos ao longo dos próximos anos — caminhões, máquinas e carros — é de R$ 24 bilhões. 

“Tirando esse parque de ativos da dívida líquida, e incluindo as outras obrigações, como fornecedores, recebíveis e floor plan [um financiamento específico para concessionárias], a dívida cairia para R$ 13,6 bilhões, com uma alavancagem de 1,9x,” disse ele. 

O segundo exercício foi considerar que as três empresas listadas operassem todos os contratos até o vencimento, mas que não houvesse nenhuma renovação ou entrada de novos contratos. 

Nesse cenário, a Simpar conseguiria liquidar todas as suas dívidas em 2,5 anos, considerando as dívidas da holding e ainda o pagamento de juros. “É uma geração de caixa implícita brutal, que explica a gente crescer a taxas tão altas sem precisar de capital,” disse o CFO. 

Por fim, o terceiro exercício foi excluir da conta o capex com crescimento, que foi de R$ 6,8 bi este ano, e tirar do EBITDA o que veio das aquisições (R$ 1,1 bi). Nesse caso, a alavancagem cairia para 3,3x.  

JSL

Na JSL, o CEO Ramon Garcia ressaltou que a empresa já está com uma receita de R$ 8,4 bi nos últimos doze meses — um número que subiria para R$ 9,6 bi se incluídas as últimas aquisições da companhia, a IC Transportes e a FSJ. 

“Se pegarmos o mesmo crescimento orgânico que tivemos nos últimos três anos e jogarmos para os próximos três, já teríamos R$ 16 bi de receita em 2026. Se incluirmos também a mesma média de aquisições que fizemos, seria uma empresa de R$ 21 bilhões de receita,” disse ele. “E isso só repetindo o que fizemos nos últimos três anos.”

Ele disse ainda que a JSL continua aberta a aquisições, mas de forma seletiva e não a qualquer preço. “Queremos empresas em setores complementares ao nosso, onde não estamos ou não somos muito fortes. Além disso, tem que ter um alinhamento de cultura e uma gestão experiente e com cultura de alta performance.”

Movida

Na Movida, o CEO Gustavo Moscatelli destacou o trabalho que a empresa tem feito para aumentar o ROIC do negócio, que estava em apenas 3% há três anos. 

A primeira mudança foi uma questão de mercado, com a melhora drástica nas condições de compra das montadoras, que já praticamente voltaram para o nível pré-pandemia. Segundo o CEO, isso contribuiu para o aumento de 4 pontos percentuais no ROIC da nova frota. 

A segunda medida tem a ver com o giro dos ativos. Moscatelli disse que a taxa de ocupação dos carros já passou de 77% para 82% no último tri, com o yield mensal subindo de 3,3% para 3,8%. Essa frente também já foi implementada e ajudou com 1,8 ponto no ROIC. 

Outra iniciativa já implementada e que contribuiu com mais 1,7 ponto no ROIC foi a melhora no ciclo de vida do ativo: a Movida mapeou três grandes detratores da produtividade e atuou para melhorá-los. 

“Antes demorava de 30 a 35 dias entre comprar o carro e ele começar a gerar receita. Reduzimos esse prazo para 16 dias. No final do ciclo, entre tirar o carro da frota e vender, demorava 22 dias. Agora demora 12 dias,” disse ele. “No ciclo da loja também tinha 8% dos carros que não estavam disponíveis para alugar porque estavam em manutenção ou lavando. Reduzimos esse número para 6,6%”

Outra mudança em curso – e que devem aumentar em mais 2,4 pp o ROIC – é um ajuste no mix, com a Movida saindo de uma frota com preço médio de R$ 85 mil para uma com preço médio de R$ 77 mil nos próximos trimestres, permitindo à empresa “cobrar a mesma tarifa num carro com um valor menor,” disse ele. 

Vamos

 Gustavo Couto, o CEO da Vamos, disse que a empresa atingiu o pico de alavancagem na metade deste ano por conta da compra de caminhões Euro 5. De lá para cá, a companhia vem conseguindo alugar esses caminhões.

“Temos uma grande oportunidade de redução de capital de giro. Este ano rodamos com estoques mais altos e um capital de giro atípico. Temos mais de R$ 1 bi de oportunidades que vamos trazer para dentro de casa, seja em contas a receber e estoque ou na linha de fornecedores,” disse ele. 

O executivo lembrou ainda que a empresa tem feito um capex de implantação – compra de novos caminhões para aluguel imediato ou locação de caminhões em estoque para os clientes – de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões por mês. “Se repetirmos esse número em 2024 e tivermos um pequeno crescimento em 2025, conseguimos mais do que dobrar o EBITDA de locação em dois anos,” disse ele. 

Automob

A Automob — um dos negócios mais recentes da Simpar e de maior crescimento — passou um guidance para os próximos anos.

Hoje, a companhia tem uma receita de R$ 9,3 bi, com 27 marcas e 108 concessionárias. A companhia disse que vê espaço para chegar numa receita de R$ 18,3 bi em 2026, com um EBITDA de R$ 1,3 bi, considerando um aumento importante da margem EBITDA, que iria de 5,5% para 7,5%.

O crescimento da receita viria do crescimento orgânico dos ativos atuais (R$ 3 bi), de novos M&As (R$ 3 bi) e da construção de uma rede de lojas de seminovos, chamada Seucarro, que adicionaria outros R$ 3 bi ao top line. 

A expectativa da Automob é chegar a 35 lojas da Seucarro no ano que vem e a 100 em 2026. 

Antonio Barreto, o vp de planejamento e M&A da Simpar, disse que em mercados mais maduros, como os EUA, os maiores grupos do setor de concessionárias têm um market share médio de 2%. A Automob tem um share de apenas 0,6% hoje. 

“Achamos que podemos chegar no médio prazo na média americana. E com 2% de share chegaríamos a R$ 28 bi de receita,” disse ele