Para se ter uma ideia da importância do Silvio Santos basta olhar para sua trajetória. Filho de imigrantes pobres, o ainda menino Senor Abravanel, mais tarde Silvio Santos, tornou-se camelô de rua.

Primeiro foi um tabuleiro na Av. Rio Branco no centro do Rio. Depois embarcou nas barcas que ligavam o Rio de Janeiro à cidade de Niterói para vender protetores de carteiras de identidade e títulos de eleitores ou ainda de canetas.

As velhas barcas eram lentas, e a travessia, demorada. O camelô Silvio Santos montou um sistema de alto-falantes nas barcas e improvisava um show com músicas e histórias para divertir os passageiros e vender seus produtos.

Mais tarde, como tinha uma voz bonita e potente, acabou vencendo um concurso da Rádio Guanabara para ser locutor. (O curioso é que o Chico Anysio ficou com o segundo lugar.)

Nos anos 50 foi para São Paulo trabalhar na Radio Nacional paulista. Na emissora, Silvio passou a ser o locutor de comerciais do programa Manoel de Nóbrega. Era tão carismático que o público aplaudia os textos quando lidos pelo Silvio.

Tímido, Silvio ficava vermelho com os aplausos – o que lhe valeu o apelido de “peru que fala”. Esperto, assumiu o apelido e montou uma caravana de artistas, aproveitando esse nome.

Para aumentar os ganhos, criou uma revista de palavras cruzadas. Foi um sucesso. Manoel de Nóbrega, além de seu programa, tinha um empreendimento chamado “Baú da Felicidade” que não ia tão bem comercialmente.

Nóbrega convidou Silvio para gerenciar o projeto, e Silvio acabou ficando com o Baú. Acabou virando o “homem do Baú.”

Nos anos 60, comprou um horário no Canal 5, TV Paulista, para fazer o programa “Brincando de Forca”. Acabou comprando mais tempo e ficou quase com o domingo inteiro.

Quando a Globo comprou o Canal 5, o Silvio continuou no domingo. O Canal 5 era a quinta emissora em audiência e o Silvio liderava aos domingos. Ajudou a Globo promovendo a nossa programação e até emprestando dinheiro para a gente pagar a folha.

Saiu da Globo porque unificamos a área comercial e isso tornava complicado o Silvio vender seus comerciais para patrocinadores. O resto, todo brasileiros sabe.

Montou o SBT, investiu no mercado imobiliário e no financeiro, criou até um banco, montou um hotel e lançou produtos. Lutou pela audiência e, nos domingos, nos deu muito trabalho. Somente com “Os trapalhões” e com o Fausto Silva é que conseguimos enfrentá-lo.

Vindo do povo, trabalhando desde seu início diretamente com o povo, tornou-se um grande conhecedor da alma humana. Isso fez dele um apresentador coloquial, simples e despojado. Um dos melhores do mundo na minha opinião. Um ícone da televisão brasileira.

Silvio deixa como marca a ALEGRIA. Tristeza aqui na Terra – mas felicidade para onde for.

Já devem estar comemorando: Silvio Santos vem aí.

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho é empresário e um dos pais da televisão brasileira.