Vivemos uma crise socioambiental, e ela está ligada ao fato de termos perdido a capacidade de “dormir bem, sonhar, lembrar e compartilhar,” diz o biólogo e neurocientista Sidarta Ribeiro.

Se conseguirmos fazer isso como sociedade, afirma ele, teremos “saúde social,” porque seremos capazes de entender “os medos e desejos do outro, não somente os nossos.”

Professor titular de neurociência e fundador e vice-diretor do Instituto do Cérebro da UFRN, Sidarta ganhou notoriedade internacional com suas pesquisas sobre os efeitos do sono, dos sonhos e das memórias.

“Não estamos prestando atenção ao sonho, porque basicamente nos esquecemos como se faz para lembrar das nossas experiências,” disse ele a Nilton Bonder neste episódio do The Business of Life.

Formado em ciências biológicas pela UnB, com mestrado em biofísica pela UFRJ, doutorado em comportamento animal pela Universidade Rockfeller e pós-doutorado em neurofisiologia pela Universidade Duke, Sidarta tem mais de cem artigos científicos publicados em periódicos internacionais. É autor, entre outras obras, de Sonho Manifesto e O Oráculo da Noite (ambos da Companhia das Letras, 2022 e 2019).

Na entrevista, Sidarta conta que, nos últimos anos, a neurociência corroborou muito do que Sigmund Freud propôs há mais de um século sobre os sonhos. Mas a parte que trata do inconsciente coletivo, presente nas obras de Carl Jung, até hoje, foi pouco estudada.

“Precisamos entender como funcionam esses personagens, essas criaturas da mente que nos habitam e influenciam nossas ações o tempo todo, e às vezes nem sabemos porque agimos assim.”

Segundo a perspectiva junguiana, os sonhos são uma forma de comunicação com o nosso inconsciente e com o inconsciente coletivo. “Se não conseguirmos entender isso, não vamos conseguir entender por que as pessoas estão se matando no Oriente Médio; por que a polícia sobe no morro e mata 20 em uma noite; por que a polícia prende a vítima e não o agressor.”

“Quando falamos em racismo estrutural, em misoginia, em transfobia, homofobia, tudo isso representa o quê? Complexos. E a gente precisa entender como se dão esses processos.”

Para Sidarta, a neurociência está madura para isso. Durante o século 20, o papel da ciência acadêmica foi separar o mundo em “caixas muito bem organizadas”, com distinções claras entre elas. Mas essas caixas foram preenchidas com conhecimento e esse aprendizado extravasou, diz ele.

“Hoje não dá mais para colocar as coisas em caixinhas. Já entendemos tanto sobre o hardware que agora podemos entender um pouco mais sobre o software.”

Em The Business of Life, o rabino e escritor Nilton Bonder conversa com personalidades de sucesso para abordar suas histórias em diferentes dimensões.

Entre os entrevistados em episódios anteriores, estão Marina Silva, Abilio Diniz, Nora Rónai, Roberto Medina, Luiz Seabra, Vik Muniz, Nelson Motta, Luiza Trajano e Wagner Moura. Veja a lista completa.