A Ser Educacional, dona da faculdade Uninassau e o maior grupo de educação superior do Nordeste, anunciou a criação de um banco digital para oferecer serviços a seus mais de 300 mil alunos e 13 mil funcionários.

É a primeira vez que uma empresa de educação faz um movimento do tipo.

O pedido para a abertura do banco já está no Banco Central, e a estimativa é que a aprovação aconteça no prazo de um ano.

Mas a Ser não vai esperar parada. Enquanto a aprovação não sai, ela vai operar com uma fintech batizada de b.Uni, oferecendo serviços como um cartão pré-pago e cashback para alunos que pagarem a mensalidade em dia.

A partir de dezembro, o salário dos funcionários da Ser também já vai ser depositado na fintech, que também fará a emissão dos boletos das mensalidades dos alunos.

No futuro, a ideia é oferecer também financiamento estudantil e empréstimo consignado para os funcionários.

Para os analistas do Morgan Stanley, o movimento “faz sentido… no papel.”

Segundo eles, grandes grupos de educação têm a inteligência para entender o risco de crédito dos estudantes e, do ponto de vista do negócio bancário, é uma proposta atrativa ter a oportunidade de ser “o primeiro contato com as finanças de uma grande comunidade de futuros advogados, médicos e engenheiros.”

O problema, segundo eles, é a execução.

“Pode ser difícil manter a disciplina conforme o conflito de interesse entre os dois negócios aparecer: o de educação (que precisa encher as salas de aula) e o de banking (que precisa financiar apenas os alunos com baixo risco),” escreveram os analistas Javier Martinez e Daniela Santoro.

Eles lembram que, com o fim do FIES em 2015, muitas companhias do setor tentaram preencher o gap de funding com iniciativas próprias de financiamento dos alunos.

“Isso ajudou a manter as salas de aula com a capacidade cheia e com bons preços por um período, mas eventualmente os recebíveis começaram a crescer, e o ROIC, a cair, até que a maioria das companhias foi forçada e fazer grandes writeoffs na medida em que os estudantes não estavam pagando os empréstimos.”

Um gestor comprado no papel diz que esse problema foi grande em empresas como a Cogna, que sofria pressão para crescer e encher as salas de aula.

“A Ser sempre foi uma empresa conservadora, de dono, e com uma disciplina grande na alocação de capital,” disse o gestor. “A postura que espero com esse negócio é que eles sejam bem parcimoniosos na expansão da carteira de crédito.”

A Ser já tinha uma solução de crédito —  a EduCrédito —  que oferecia financiamento estudantil de forma bem pontual para seus alunos (a carteira de recebíveis hoje soma cerca de R$ 100 milhões).

Com o B.Uni, “eles devem colocar esse crédito de forma mais estruturada e dentro de uma ferramenta que pode se tornar um ativo relevante, gerando receitas de outras formas também: não só com o crédito mas com outros serviços financeiros,” diz o gestor.

Para ele, se der certo, o banco digital pode ser transformacional.

Assumindo um valuation de R$ 3 mil/usuário ativo (que é quanto o Banco Pan negocia na Bolsa) e considerando que a Ser vai chegar a 340 mil alunos com a compra da Fael, o banco digital “adicionaria R$ 100 milhões de valor de mercado para cada 10% da base que a Ser conseguir converter em usuários ativos do banco digital.”

Estimando que ela consiga converter 20-30% da base, isso significaria que o banco digital poderia ter um valor equivalente a 20% do market cap atual da empresa.

O curioso é que a Ser está criando um banco digital justamente no momento em que as fintechs estão perdendo valor na Bolsa. Companhias como Stone, PagSeguro e Banco Inter já despencaram mais de 50% desde que atingiram sua cotação máxima.

Mas o mercado viu valor: a ação da Ser subiu 5% hoje. A companhia vale R$ 1,4 bi na Bolsa.