À primeira vista, o experimento tinha tudo para ser festejado pelos funcionários e execrado pelo C-Level: trabalhar apenas quatro dias por semana – e sem redução dos salários.

A experiência, feita por um grupo de empresas britânicas, durou seis meses, entre junho e novembro de 2022. Os resultados, que acabam de ser publicados, foram tão positivos que a grande maioria dos participantes decidiu manter a semana de quatro dias.

Das 61 companhias e organizações que fizeram parte da experiência, 56 disseram que seguirão com a jornada reduzida por mais algum tempo. Entre essas, 18 decidiram instituir o esquema em definitivo.

Boa parte dos trabalhadores relatou melhora na saúde mental e na disposição para o trabalho. Os pedidos de demissão caíram, enquanto o bottom line das companhias ficou praticamente inalterado – e um grande número delas observou avanço na produtividade.

Ao todo, 2.900 pessoas fizeram parte desse programa-piloto, tido como o maior do tipo realizado até hoje.

A coordenação do projeto foi uma iniciativa da 4-Day Week Global, que vem trabalhando, em escala global, para que as tradicionais 40 horas semanais sejam reduzidas para 32 horas. (No Brasil, ao menos no papel, as jornadas devem ser de no máximo 8 horas ao dia e 44 horas na semana.)

“No início, as empresas viram esse programa como algo para enfrentar os casos de burnout em razão da pandemia. Agora, para muitas delas será uma maneira de reter funcionários e atrair novos colaboradores, ” disse ao The Wall Street Journal a economista e socióloga Juliet Schor, do Boston College.

Entre as empresas participantes estão instituições financeiras, redes de restaurantes, agências de marketing, consultorias, desenvolvedores de conteúdo digital e uma cervejaria. A implementação e a avaliação contaram com o apoio do instituto de pesquisas Autonomy em colaboração com estudiosos do Boston College e da Universidade de Cambridge.

Os empregadores tiveram flexibilidade para negociar com os empregados a maneira de implementar a redução da jornada de trabalho, podendo ser por meio de um dia de folga adicional por semana ou a diminuição horas ou dias trabalhados ao longo do período de teste – o importante era limitar a carga média no batente em 32 horas por semana.

Os resultados dão força aos argumentos dos defensores da redução da jornada de trabalho como um meio para aprimorar a qualidade de vida das pessoas, e possivelmente, até elevar a produtividade.

No experimento britânico, uma sondagem feita ainda durante o período de teste identificou que 46% das empresas envolvidas relataram que a produtividade não havia sido afetada, 34% disseram ter havido uma ligeira melhora e 15% informaram terem notado uma melhora expressiva.

Entre os trabalhadores, 39% disseram que estavam menos estressados, metade deles notou uma melhora na saúde mental e 37% relataram melhora na saúde física. As pessoas viram como positivo o fato de terem mais tempo para cuidar dos filhos e familiares.

“Com o avanço da tecnologia e o aumento da produtividade, é hora de avançar para a semana de quatro dias sem redução dos salários,” tuitou o senador Bernie Sanders, conhecido por suas posições a favor dos trabalhadores, ao comentar os resultados do estudo britânico. “Os trabalhadores devem se beneficiar da tecnologia, não apenas os CEOs das corporações.”

Mas o experimento que acaba de ser concluído envolveu companhias relativamente pequenas, e, como nota o WSJ, grandes grupos já avaliaram adotar a redução da jornada, mas esbarraram em obstáculos para seguir adiante – entre outros motivos, os trabalhadores não conseguiam cumprir as tarefas dentro do prazo.

Estudos semelhantes começaram a ser feitos em outros países, incluindo o Brasil, e a ideia tende a ganhar força ao redor do mundo. Não são poucas as pessoas dispostas a trabalhar menos, mesmo que, em algumas situações, isso signifique sacrificar promoções e ter um salário menor.

No Brasil, porém, a baixa produtividade seria um desafio e tanto para diminuir a carga de horas trabalhadas sem que houvesse uma perda econômica. Algumas poucas empresas, a maioria delas na área de tecnologia, funciona com o esquema de quatro dias por semana. Para manterem os resultados, elas precisam se organizar e não perder o foco nos dias de trabalho.