Enquanto Rede D’Or, Dasa e Mater Dei trabalham para consolidar o mercado de hospitais gerais, uma firma de private equity recém-criada está tentando monetizar um nicho ignorado pelos grandes players do setor: hospitais e clínicas psiquiátricas.
“O Brasil está 30 anos atrasado nessa tese em comparação aos Estados Unidos,” Rodrigo Simões, o cofundador da Teman Capital, disse ao Brazil Journal. “Lá, muitos fundos já fizeram investimentos nisso e tem empresas listadas na Bolsa com mais de 10 mil leitos valendo bilhões de dólares.”
Os fundos de private equity raramente olham para esse nicho porque os cheques são muito pequenos – e o trabalho de construir uma grande rede do zero é muito grande, disse Frederico Brito e Abreu, o outro fundador.
Já para os players de saúde, o segmento é a última das prioridades, já que eles ainda veem muito espaço para crescer em hospitais gerais e verticais como oncologia e ortopedia.
Frederico e Rodrigo se conheceram na Advent, onde trabalharam juntos olhando principalmente teses de educação.
Frederico foi head de M&A e CFO da Kroton – uma das investidas da gestora – e deixou a empresa em 2018. Já Rodrigo passou oito anos na Advent, de onde saiu para liderar a área de M&A de outra investida: a LifeMiles, o programa de fidelidade da Avianca.
Para colocar a tese de pé, a Teman Capital levantou R$ 300-400 milhões com a Vinci Partners, que vai se tornar acionista da empresa. Carlos Eduardo Martins, sócio da Vinci, é o presidente do conselho
Outros R$ 150 milhões vieram de investidores brasileiros e internacionais, incluindo a Green Rock, o family office especializado em saúde da família fundadora do Salomão Zoppi, e Bruce Shear, o fundador da Pioneer Behavioral Health, uma rede de hospitais psiquiátricos de Boston vendida para a Acadia Healthcare. (Bruce também é advisor do fundo).
A lista de investidores inclui ainda o family office de Marcos Lederman e a Perenne Investimentos.
Com o capital, a companhia já fez duas aquisições: pagou R$ 135 milhões pela Clínica da Gávea, um hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro com 250 leitos, e pelo Instituto São José, que fica em Santa Catarina e tem 150 leitos. (A Teman não abre os valores por ativo.)
Um terceiro M&A está perto de ser concluído no Sudeste; e há quatro negociações em processo de due diligence.
Frederico disse que o primeiro passo da tese é criar uma rede de 11 hospitais de alta complexidade – que fazem a internação de pacientes com problemas agudos, como doenças psiquiátricas ou o vício em álcool e drogas.
Em seguida, a Teman quer comprar ou construir mais 40 hospitais-dia e residências terapêuticas, além de criar um serviço de telemedicina. “Queremos construir uma rede integrada de cuidado psiquiátrico com presença nacional,” disse o gestor.
A aposta da Teman vem num momento em que há um déficit brutal de leitos no setor, em grande parte pelo fechamento de hospitais públicos por conta da política ‘antimanicomial’ que reinou nos últimos anos.
Para se ter uma ideia, o setor público saiu de 72 mil leitos em 1996 para apenas 23,6 mil no ano passado. Nos últimos anos, houve um crescimento do setor privado, mas não o suficiente para suprir a queda do público. Os leitos privados saíram de 8,7 mil em 2005 para 14 mil no ano passado.
Ao mesmo tempo, o número de internações da rede privada aumentou mais de 30% apenas nos últimos quatro anos.
Como a ANS obriga que os planos de saúde cubram os tratamentos de saúde mental, boa parte das receitas dos hospitais privados hoje vem das operadoras.
“Nosso trabalho é praticamente credenciar os hospitais em mais operadoras e aumentar o número de leitos,” disse Rodrigo. “A demanda é tão grande que você coloca mais camas, e elas enchem na hora.”
O gestor diz que quando a Teman comprou a Clínica da Gávea, por exemplo, a ocupação dos leitos era de 80%. A gestora aumentou o número de leitos em 40% e mesmo assim a ocupação está hoje em 95% – por conta do aumento do credenciamento e a oferta de novos serviços, como o atendimento infanto-juvenil e o hospital-dia.