A Sabesp anunciou neste domingo a compra do controle acionário da EMAE, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia, por R$ 1,13 bilhão.
O negócio envolve a aquisição de 70,1% do capital total da empresa — sendo 74,9% das ações ordinárias e 66,8% das preferenciais — que pertenciam ao FIP Phoenix e à Eletrobras, respectivamente.
A Sabesp pagou R$ 59,33 por ação ON. Já para os papéis PN, em poder da Eletrobras, pagou R$ 32,07.
A entrada da concessionária na EMAE é o desfecho para um imbróglio iniciado na privatização da empresa que controla os sistemas hidráulicos na Grande São Paulo, no Médio Tietê e na Baixada Santista.
O FIP Phoenix, controlado por Nelson Tanure e Tércio Borlenghi Junior, o fundador da Ambipar, arrematou o controle da EMAE por R$ 1 bilhão num leilão em abril de 2024, cujo processo só foi concluído em outubro daquele ano.
Por meio do Phoenix, Tanure deu as ações da EMAE em garantia para uma emissão de debêntures numa operação liderada pela Vórtx e a XP. No cronograma de vencimentos, a primeira parcela estava programada para vencer em 27 de setembro. Mas os problemas já estavam no radar há meses.
Vórtx e XP vinham discutindo há seis meses com o Phoenix o pagamento dessa primeira parcela de juros, fontes envolvidas nas conversas disseram ao Brazil Journal. O fundo sinalizava que precisava de mais prazo, sem apresentar nenhuma nova garantia.
Outro sinal de alerta veio da Ambipar. O selloff da dívida da companhia nos últimos dias derrubou o preço das ações da empresa e despertou dúvidas sobre a geração de caixa da Ambipar – o que botou ainda mais pressão por uma solução para a EMAE, uma vez que Tércio é avalista da operação Phoenix e, portanto, responderia na pessoa física.
Credores estavam preocupados com um possível comprometimento do caixa da EMAE, já que Tanure costuma usar recursos de uma de suas empresas para salvar outra.
Com dúvidas sobre a governança da EMAE e os riscos envolvendo os avalistas, Vórtx e XP declararam o vencimento integral da dívida em 30 de setembro e começaram o processo de execução na sexta-feira.
Tanure ficou sabendo da venda para a Sabesp apenas pelo Fato Relevante e disse aos nossos colegas do Valor que já acionou a Justiça para contestar a execução.
A Sabesp acompanhava de perto os riscos envolvendo a EMAE, uma vez que depende dos sistemas Guarapiranga e Billings para o abastecimento de água para a Grande São Paulo. A empresa de saneamento procurou a XP dez dias atrás para demonstrar seu interesse no ativo.
Em fato relevante, a Sabesp destacou que a EMAE possui ativos estratégicos de geração hidrelétrica com fluxo de caixa estável, sustentado por contratos de longo prazo atrelados à inflação. A expectativa é que o negócio fortaleça a estrutura financeira da empresa e gere sinergias operacionais de médio e longo prazo.
Segundo a companhia, a incorporação permitirá uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos e energéticos, aumentando a segurança hídrica e o uso múltiplo dos mananciais.
Na tarde deste domingo, o governo do Estado de São Paulo publicou uma nota comentando a operação.
“O Governo de São Paulo avalia que a aquisição de 70% do capital total da Empresa Metropolitana de Água e Energia (EMAE) pela Sabesp poderá reforçar a segurança hídrica da população paulista, otimizando o gerenciamento de um complexo sistema de barragens, diques e reservatórios, como Billings e Guarapiranga, essenciais para a resiliência hídrica, em especial da região metropolitana de São Paulo,” diz a nota.
O governo temia que um desarranjo na EMAE comprometesse o abastecimento e colocasse em risco outra privatização cara à administração Tarcísio de Freitas: a própria venda da Sabesp.
O closing de ambas as transações – com a Vórtx e a Eletrobras, que ocorreram em separado – ainda depende de aprovação pelas autoridades regulatórias e de defesa da concorrência.