Em 17 de agosto de 2018, dei meu último boa noite aos milhares de ouvintes do “3 em 1”, o programa político que ancorava diariamente na Rádio Jovem Pan de São Paulo. Despedi-me também dos colegas que estiveram ao meu lado nos mais de 20 anos que trabalhei na empresa, dos quais os últimos cinco como executivo.


Eu acabara de completar 45 anos, e sentia que era minha hora de descer ao vestiário. Lembro-me de cada segundo daquela sexta-feira. Pelas janelas do 24º andar do edifício Winston Churchill, a Avenida Paulista parecia a mesma, indiferente à minha decisão.

Dentro de mim, uma mistura de sentimentos antagônicos: felicidade e tristeza, coragem e medo, alívio e exaustão. A decisão estava tomada. Era o segundo momento mais importante da minha vida.

O primeiro havia sido em 30 de abril de 1994 quando, ainda jovem universitário, ouvi pela primeira vez o carimbo do relógio de ponto marcar, no cartão verde da minha admissão, o horário de cinco da manhã. Eu fora contratado por uma grande empresa de comunicação, a mesma de onde sairia no auge da minha carreira de jornalista.

Quando cheguei a executivo, passei a ter uma agenda alucinante, com tarefas estratégicas que envolviam outros departamentos. Projetava novos programas, contratava, demitia, e trabalhava com os olhos voltados para um mercado altamente competitivo.
 
Eu era chefe 24 horas por dia, e já começava a vislumbrar o próximo degrau na hierarquia, quando comecei a ouvir uma voz dentro de mim: “Vamos com calma, nada como um dia após o outro”. Ansioso como sempre fui, vi os dias passando: o primeiro ano, o segundo… até que as coisas começaram a perder o sentido. Cheguei ao meu limite.
 
Era hora de parar.
 
Meu tempo produtivo caiu consideravelmente. Eu não tinha mais energia para tocar projetos. Passava a maior parte do tempo num duelo mental de questionamentos sobre o propósito daquilo que eu fazia.

Os dias se arrastavam. Não tinha mais paciência para as reuniões diárias, que pareciam infindáveis. Não era só a política brasileira – que escorria pelo ralo com a Operação Lava Jato – que me irritava. A política interna da empresa também me consumia, embora não houvesse nenhum episódio específico. 

Foi aí que resolvi tirar um período sabático. Agora em maio, completo nove meses longe da empresa. Nesse tempo, escrevi meu primeiro livro: “45 do primeiro tempo – o que o sabático me ensinou sobre propósito de vida e carreira”, onde conto como encontrei novo sentido para retomar o trabalho. 

Faz parte da vida de qualquer executivo lidar com forças opostas e jogos de poder, mas havia um poder dentro de mim que também começava a ganhar musculatura: o poder da mudança. A vontade de sair dali e buscar um lugar onde eu pudesse estar mais pleno e respirar.

Por dois anos (antes de me decidir pelo sabático) me remoí tentando buscar alguma saída. Não era uma decisão fácil. Muita coisa estava em jogo, afinal, minha vida profissional tinha sido construída naquela empresa. Nada poderia sair de impulso. Busquei ajuda em terapia, leituras e conversas com pessoas que, de alguma forma, já haviam passado por situação parecida.

Eu me sentia doente, embora os diagnósticos médicos atestassem boa saúde. Na verdade, eu estava diante de um diagnóstico tão letal quanto uma grave enfermidade: o sentimento de que a vida estava passando, e eu, morrendo aos poucos.

Os sintomas eram claros. Meu semblante não escondia a carga de estresse que meu corpo carregava, meu estômago não dava conta de digerir uma rotina extenuante e vazia de significado. Meu corpo pedia ajuda. 
 
Agora, estou pronto para começar o segundo tempo. Estou voltando, mais forte e mais consciente sobre meus limites.  Num mundo em que sobra cada vez menos tempo para nós mesmos, espero que meu relato ajude outros a reavaliar o equilíbrio entre vida e carreira.
 
 

Patrick Santos, ex-gerente de jornalismo da Jovem Pan, vai lançar “45 do primeiro tempo” no dia 13/05 ,na Livraria Cultura da Avenida Paulista, a partir das 18:30 hs. A entrada é franca, como o autor.