Como era de se esperar, a tragédia no Rio Grande do Sul também afeta diretamente as operações das companhias de capital aberto no estado, e o mercado começou a colocar o prejuízo no preço.

Empresas gaúchas – ou com forte exposição ao estado – despencaram no pregão de hoje: Lojas Quero-Quero e Marcopolo caíram 6,1% cada; a 3tentos, 4,4%; Panvel, 5,2%; e Renner, 2,7%. 

O CEO Fabio Faccio disse que o impacto na companhia não será tão grande quanto pode parecer à primeira vista.

Fabio FaccioA Renner disse que 4% de suas lojas estão temporariamente fechadas. “Não temos fornecedor e nem centro de distribuição no Sul, e a nossa maior base de lojas é no Sudeste,” Faccio disse ao Brazil Journal

A Lojas Quero-Quero teve 12 lojas fechadas pelas enchentes (do total de 552). Outras 29 estão operando com dificuldade, especialmente por problemas relacionados à falta de energia, desabastecimento de água ou problemas de deslocamento dos funcionários.

O CEO Peter Furukawa disse ao Brazil Journal que acredita que o maior impacto será sentido por empresas que têm mais operações na região metropolitana de Porto Alegre – o que não é o caso da Quero-Quero.

“Está uma verdadeira operação de guerra em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo,” disse. “Mas as nossas vendas, até agora, estão batendo as metas.” 

A 3tentos despencou mesmo após publicar um comunicado dizendo que sua operação – que engloba indústrias nas cidades de Ijuí e Cruz Alta – opera normalmente.

Segundo a empresa – que vende insumos agrícolas e transforma grãos de soja em farelo e biodiesel – apenas duas de suas 55 unidades comerciais, localizadas em Santa Maria e Cachoeira do Sul, foram impactadas pela tragédia. 

No caso da 3tentos, a preocupação dos investidores é clara: o agronegócio deve ser o mais afetado pelo desastre na região. 

O economista-chefe da Exploritas Investimentos, Andrei Spacov, disse que a tragédia gaúcha deverá levar a uma quebra de lavouras – especialmente no arroz e trigo – e consequentemente pode pressionar a inflação. 

Por outro lado, a enchente tende a deprimir a atividade econômica no Estado, que responde por 6,5% do PIB brasileiro.

“Estamos falando de uma paralisação de atividades bem ampla. E se compararmos com a grande enchente de 1941, estamos falando de 20 dias para a água baixar, então vamos precisar de uma reconstrução,” disse.

Mesmo em meio ao cenário de guerra, algumas empresas começaram a retomar as atividades. 

Peter FurukawaNo caso da Randoncorp, a maior parte das fábricas abriu nesta segunda-feira, com exceção da unidade da Fras-le Mobility em São Leopoldo. 

A companhia disse que está tomando “todas as medidas necessárias para adequar suas operações ao cenário atual, priorizando antes de tudo a segurança das pessoas.”

A operação da Marcopolo também foi paralisada em duas fábricas no fim de semana, mas recomeçou hoje.

Já a Gerdau permanece com suas duas usinas fechadas; juntas, elas empregam mais de duas mil pessoas. A empresa disse que isso “não impacta a entrega aos clientes” e que vai avaliar a retomada até o fim desta semana. 

Seguindo a mesma linha, a Rumo disse que sua Operação Sul foi afetada pelas chuvas, mas que não enxerga desvios grandes dos resultados previstos para o ano. 

As chuvas no Rio Grande do Sul já vitimaram 83 pessoas, número que deve aumentar nos próximos dias. Há 111 desaparecidos e 276 feridos, de acordo com a Defesa Civil. 

Dos 497 municípios do estado, 345 sofreram o impacto das chuvas. Segundo o governo do estado, são quase 20.000 desabrigados e 122 mil desalojados. 

No domingo, o governo federal reconheceu o estado de calamidade pública em 336 municípios. Com isso, essas cidades poderão receber com mais rapidez e menos burocracia os repasses de verbas. 

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