No mês passado, o Banco Central impôs uma série de restrições para a emissão de LCIs, LCAs, CRAs, CRIs e LIGs – títulos isentos de imposto de renda e que foram criados para incentivar o mercado imobiliário e o agronegócio.
Para o BTG, essas mudanças terão um impacto relevante nesse mercado, limitando a emissão desses títulos e beneficiando o mercado de ações.
Num relatório divulgado hoje, o banco disse que não é simples estimar o impacto das novas medidas, mas que o time de crédito do BTG calculou que 30% de todos os CRIs e CRAs emitidos em 2023 (ou R$ 30 bilhões) não poderiam ter sido emitidos se a nova regra estivesse em vigor – e portanto não poderão ser rolados.
Já o Banco Central estima que de 15% a 20% de todas as LCIs e LIGs emitidas ano passado (ou R$ 70 bilhões a R$ 90 bilhões) também não poderiam ter sido emitidas.
“Somando os dois, estimamos que de R$ 100 a R$ 120 bilhões de títulos isentos de imposto de renda não poderiam ser emitidos nas novas regras do Banco Central, o equivalente a 9% a 11% do inventário total desses títulos detidos por investidores de varejo e private bankings,” escreveu o banco.
Para efeito de comparação, a exposição de clientes de private banking e investidores de varejo à Bolsa era de R$ 716 bilhões em 2023 — ou seja, o estoque “não rolável” de incentivados equivale a 14% a 17% destes investimentos.
O BTG nota, no entanto, que este estoque “não rolável” não será todo investido em ações, pois uma boa parte vai para títulos de renda fixa taxados. “Mas conforme a Selic cai, os investimentos em ações vão se tornar mais atrativos.”
No relatório, o BTG também deu dados que mostram o tamanho que o mercado de títulos isentos ganhou nos últimos anos.
No ano passado, esses títulos representaram 19,2% de todos os investimentos diretos dos investidores de varejo e private bankings, em comparação a 10,2% em 2019. No total, o estoque desses títulos somou R$ 1,1 trilhão – o equivalente a uma XP.
Segundo o FGC, 4,8 milhões de investidores tinham LCIs e LCAs em seu portfólio em novembro do ano passado.
Outro insight — preocupante para as gestoras — é que os investidores de varejo e private banking têm aumentado seus investimentos diretos em renda fixa e ações nos últimos anos, e reduzido suas alocações em fundos (principalmente multimercado e de renda fixa).
Em 2019, 40% de todo o dinheiro desses investidores estava em fundos, 31% em investimentos diretos em renda fixa e ações, e 28% na poupança.
No ano passado, apenas 28% do dinheiro estava em fundos, 52% em investimentos diretos em renda fixa e ações, e 16% na poupança.