A Lojas Renner bateu forte hoje no que vê como concorrência desleal por parte de empresas chinesas como a Shein.
Falando num evento do BTG, o CFO Daniel Martins disse que o Brasil “não precisa mudar a lei. Basta aplicá-la.”
“Tem alguns players estrangeiros que praticam a lei. Por que outros não praticam? Por governança e princípios,” disse ele.
Segundo o CFO, o tema está ganhando corpo, e a expectativa é que a situação da tributação seja equacionada ainda este ano.
Ele notou que a Receita Federal publicou no final de dezembro uma Instrução Normativa (No. 2124), que vai obrigar as transportadoras, como os Correios, a compartilhar as informações com a Receita das mercadorias que chegam de remessas internacionais.
Com essas informações, a Receita poderá fazer a cobrança dos impostos devidos.
“Uma das principais questões hoje é a dificuldade da Receita de fiscalizar. Porque são milhões e milhões de pacotes que chegam todos os dias,” disse o CFO. “Essa normativa é um primeiro passo importante para equacionar isso.”
Daniel disse ainda que o tema não é de interesse apenas dos players do varejo, mas do Governo também, dado o desafio fiscal e o tamanho dessas empresas, como a própria Shein, a AliExpress e a Shoppe.
“Se não acontecer nada este ano seria uma grande frustração e teria algo muito errado,” disse ele.
Questionado sobre o impacto da Shein na precificação e margem bruta da Renner, Daniel disse que não acha que a concorrente vai gerar uma mudança estrutural do preço e margem do setor.
“O mercado de moda é muito fragmentado. Depois que equacionar essa questão do tributo, a Shein vai ocupar o espaço dela, com preços que vão continuar menores que os nossos, mas isso não significa que todo mundo vai ter que se adaptar à precificação deles,” disse ele.
“A Renner vai continuar operando com sua estratégia de conteúdo de moda, de produto e de experiência.”
O CFO lembrou ainda o caso da Forever 21, que gerou um enorme frisson quando entrou no Brasil, com filas quilométricas nas lojas justamente pela oferta de preços baixos. “Com o tempo, eles tiveram que equacionar o preço e depois… desapareceram.”
Hoje, a Shein opera com preços de 40% a 60% abaixo da Renner, dependendo da categoria de produtos. Quando os tributos passarem a ser cobrados, a Renner estima que essa diferença cairá para algo entre 15% e 30%.
“Eles não têm loja, têm um modelo diferente do nosso que permite cobrar menos mesmo,” disse o CFO. “Mas com os tributos a diferença vai ser normal para uma marca que tem um posicionamento diferente.”