A Rede D’Or anunciou que vai postergar uma parte de seus projetos greenfield e brownfield — um tema que vinha sendo aventado pelo mercado há meses e que a companhia havia minimizado publicamente, inclusive em entrevista ao Brazil Journal. 

Em termos absolutos, o novo plano é praticamente idêntico ao anterior, com uma expansão de 6,6 mil leitos até 2027 em comparação a 6,8 mil antes. 

No entanto, a Rede D’Or adiou uma parte significativa dos lançamentos previstos para 2024 para os anos subsequentes. Antes, a companhia esperava abrir 4,7 mil leitos em 2024 e 1,5 mil em 2025. No novo plano, ela projeta abrir 2,4 mil leitos ano que vem, 2 mil leitos em 2025, 1,1 mil em 2026 e 1,4 mil em 2027. 

A companhia também reduziu um pouco os leitos greenfield de 2,6 mil para 2 mil, e aumentou os brownfield, de 4,2 mil para 4,5 mil. 

Os dados estão no formulário de referência da empresa, arquivado ontem na CVM.

No documento, a Rede D’Or reduziu o número de hospitais a ser construídos entre 2023 e 2025. A previsão anterior era construir 11 novos hospitais do zero. Agora, a companhia disse que fará 7.

Nos projetos brownfield — basicamente a expansão de leitos em hospitais já prontos — a Rede D’Or também reduziu suas projeções. A companhia agora diz que pretende fazer expansões brownfield em 25 hospitais no período de 2023 a 2025. No formulário anterior, a projeção era de 27 hospitais. 

O Itaú BBA disse que vê a postergação do plano como negativa, “particularmente para os investidores que enxergam a ação como uma de crescimento.”

“Dito isso, [a Rede D’Or] terá um alívio no balanço no curto prazo,” escreveu o analista Vinicius Figueiredo. “De um ponto de vista estratégico, entendemos o racional por trás da revisão. O alto custo de capital e a situação financeira desafiadora dos planos de saúde reduziram de forma significativa os planos de expansão de vários players do setor, tanto em termos orgânicos como inorgânicos.”

O analista diz, no entanto, que a companhia reiterou seu plano de expansão em calls recentes com o mercado, e que o management parecia confiante de que a aquisição da SulAmérica ajudaria a mitigar os riscos associados a essa expansão. 

“Portanto, o mercado deve ver a decisão como uma surpresa negativa, especialmente considerando o valuation alto da companhia, que embute um crescimento forte no futuro.”

Para o BTG Pactual, ainda que o anúncio pareça negativo inicialmente, ele traz três fatores positivos: o capex esperado para 2024 caiu de R$ 4,7 bi para R$ 2,4 bi, o que deve abrir espaço para uma maior geração de caixa no curto prazo; o capex por leito subiu pouco (R$ 1,49 milhão, em comparação a R$ 1,47 mi antes) apesar da inflação do período; e muitos investidores já estavam adotando projeções mais conservadoras de expansão de leitos mas não tinham ajustado suas estimativas de capex na mesma proporção. 

“No geral, quando incorporamos o novo plano no nosso modelo, o anúncio parece ligeiramente negativo para o net asset value (NAV) justo, com nossas projeções para o lucro de 2024 e 2025 caindo 1% e 3%, respectivamente.”