Há dez dias, seguindo seu estatuto, a Vale contratou a Spencer Stuart para ajudar a escolher o sucessor de Murilo Ferreira. 

A firma de headhunting vai submeter uma lista de candidatos ao conselho da Vale, que tomará uma decisão até o fim de maio.

Em que pese toda a coreografia de uma escolha ‘de mercado e para o mercado,’ o escolhido tem que agradar o Planalto, o Bradesco e a Previ.

Ou seja: para ser CEO da Vale, você não precisa entender de minério, mas tem que entender de política.

Uma ideia sendo ventilada no Planalto é transferir Maria Silvia Bastos Marques do BNDES para a Vale.  Até recentemente, essa ideia estava sendo alimentada pela insatisfação — justificada ou não — de parte do empresariado com o baixo nível de desembolsos do BNDES. 

“Há muita pressão interna e externa contra a Maria Silvia,” diz uma fonte com trânsito no banco e em Brasília.  “Sempre que você pega uma pessoa que vem do setor privado e coloca numa organização grande dessas, o corporativismo se manifesta.  Essa história de desembolsos baixos é um biombo criado por políticos com algum interesse; a verdade é que não tem demanda [pelos empréstimos].”

Um jeito de Brasilia ficar bem com os dois lados seria fazer Maria Silvia ‘cair para cima’. 

Outro nome que o Planalto vê com bons olhos é o de Nelson Silva, diretor de estratégia, organização e gestão da Petrobras, que tem apoio de gente influente no Governo e pessoas próximas a Temer.

Silva é um veterano da Vale. Trabalhou para a empresa na Europa e no Japão; depois, voltou ao Brasil e foi diretor de comercialização da companhia. Mais tarde saiu da Vale para assumir a presidência mundial de alumínio da BHP e, mais tarde, a subsidiária brasileira da BG.  

Silva tentou se viabilizar para o cargo em 2011, quando Murilo foi o escolhido, mas não chegou à lista tríplice, que incluía ainda Tito Martins e José Carlos Martins, ambos diretores da Vale.

Um terceiro nome é Clovis Torres, ex-diretor jurídico da Vale e hoje diretor executivo de recursos humanos, sustentabilidade, integridade corporativa e consultoria geral da companhia.  Torres, que é amigo de infância do relator da PEC da Previdência, Arthur Maia, é bem conhecido pelos acionistas da empresa e tem bom trânsito em Brasília. 

Finalmente, a lista da Spencer deve incluir Rômulo Dias, que deixou o comando da Cielo e voltou para a Cidade de Deus. Como se sabe, Rômulo já foi presidente da Bradespar, o veículo pelo qual o Bradesco participa da Vale.

Correndo por fora, há até um nome do antigo regime:  Aldemir Bendine está fazendo gestões em Brasilia para tentar se viabilizar.  No processo, já procurou até um influente senador tucano para pedir apoio.

Mas as chances de Bendine são tidas como mínimas, dada sua biografia. Como se sabe, o ex-presidente do BB foi autuado pela Receita por não conseguir comprovar a origem de parte de seu patrimônio, além de ter sido acusado de beneficiar a socialite Val Marchiori, sua amiga, na obtenção de empréstimo no Banco do Brasil — uma linha subsidiada do BNDES.

Desgastado, Bendine estava demissionário do Banco do Brasil quando Dilma Rousseff o içou à presidência da Petrobras.

A piada maldosa de um gestor:  “Será que ele vai conseguir presidir sua terceira estatal?”