A Eve, a fabricante de ‘carros voadores’ controlada pela Embraer, viu sua ação despencar 40% desde o IPO em março, de US$ 10 para US$ 6,21 ontem.
O Santander acha que este é um bom ponto de entrada.
O banco iniciou hoje a cobertura da empresa com recomendação de compra e preço-alvo de US$ 10,50, um upside potencial de 54% em relação ao preço de tela.
Os analistas Lucas Barbosa e Lucas Esteves dizem que a empresa é “uma história de alto retorno, e alto risco.”
Segundo eles, os eVTOL (electric vertical take-off and landing) que a Eve fabrica são uma solução para os desafios da mobilidade urbana global dada a economia que eles podem gerar, a redução do tempo no trânsito, a redução das emissões (graças a seus motores elétricos) e dos níveis de barulho.
“A expectativa é que o custo das viagens seja 6x menor que o dos helicópteros e que, com a tecnologia de eVTOLs autônomos, o custo seja menor até que o dos táxis.”
Segundo eles, a tese de investimento na Eve se baseia em três pilares. O primeiro: um mercado endereçável que eles calculam chegar a US$ 102 bilhões em 2040, podendo dobrar nos dez anos subsequentes. O segundo: um grupo de stakeholders com um track record comprovado na indústria de aviação, com destaque para a Embraer, que dará suporte na parte de infraestrutura, propriedade intelectual e engenharia.
Por fim, os analistas enxergam retornos expressivos em alguns cenários com uma assimetria positiva: um potencial de upside 3 vezes maior que o downside.
O banco simulou cinco cenários com premissas diferentes para fatores como os custos de desenvolvimento, a demanda pelos “carros voadores”, os números da operação, e o funding.
No cenário mais otimista, o valor justo da ação seria de US$ 16 em 2023, um upside de 135%. No mais pessimista, o papel valeria US$ 2,60, um downside de 62%.
Para fazer o valuation da empresa — ainda em fase pré-operacional — o Santander fez um fluxo de caixa descontado com premissas “bem conservadoras” e projeções “bem lá pra frente,” o analista Lucas Esteves disse ao Brazil Journal.
“Usamos um custo de capital de 12,5%, que é bem alto, e projetamos os números a partir de 2026 e indo até 2050. Só depois de 2050 que colocamos na perpetuidade,” disse ele.
O maior risco para a Eve talvez seja o desenvolvimento das aeronaves. A companhia ainda não construiu um protótipo em tamanho real para fazer testes de voo e ainda está no processo para conseguir as certificações da ANAC.
A expectativa do Santander é que a Eve finalize esses processos em 2027, quando começará a entregar os pedidos.
Outro ponto de atenção é que todos os pedidos que a Eve tem hoje (2.060) ainda são apenas cartas de intenção — e não ordens firmes.
“Esse vai ser um dos triggers para a ação: quando os pedidos se tornarem firmes, porque aí os clientes tem que fazer um down payment de uns 20% e a Eve já começa a gerar receita,” disse o analista.
Para ele, os pedidos devem começar a se tornar firmes quando a Eve lançar o protótipo em tamanho real, fizer os testes de voo e mostrar que consegue produzir em escala industrial.
A Eve também não é a única desenvolvendo eVTOLs. Há pelo menos outras 100 empresas trabalhando em protótipos desses veículos, algumas também já listadas na Bolsa.
“Mas eu acho que o mercado vai ser gigantesco e vai ter espaço para todo mundo,” disse o analista. “Além disso, a Eve tem diferenciais competitivos importantes.”
Para ele, o maior desses diferenciais é a parceria com a Embraer, que ainda é dona de 85% do capital da empresa.
“Eles fizeram um contrato de royalties free com a Embraer que vai permitir que eles usem todos os funcionários e engenheiros da Embraer sem pagar prêmio por isso,” disse ele. “E eles vão poder dimensionar o uso dos engenheiros pela demanda: se uma semana quiserem usar 100 engenheiros e na outra 10, eles vão ter essa flexibilidade.”