Numa entrevista coletiva em maio, o CEO do Santander, Sérgio Rial, foi perguntado o que aconteceria com a Olé, a joint venture do banco com a família Pentagna Guimarães para explorar o crédito consignado.

Dois meses antes, a família mineira havia exercido uma opção para vender seus 40% na Olé ao Santander. 10854 5e8b2f2e 8474 857a 8de1 4ae71c7ac6b8

Rial disse aos repórteres que tudo estaria resolvido até o fim do ano.

O Natal está chegando, e o negócio — que é objeto de uma arbitragem — tem tudo para chegar a 2020 sem um desenlace. 

Em jogo: o valuation da empresa, que os espanhóis dizem valer R$ 3 bi e os mineiros  avaliam em R$ 4,5 bi, segundo fontes ouvidas pelo Brazil Journal.

Mais conhecidos como os donos do BS2, o antigo Banco Bonsucesso, os Pentagna Guimarães criaram um negócio separado na Olé, que está debaixo de uma holding chamada Bosan Investimentos.  (A família tem parentesco com os outros Pentagna Guimarães, donos do banco BMG, que também atuam no consignado) 

A parceria entre a família e o Santander começou em 2015, quando a Olé ia mal das pernas e Rial começava seu plano de ampliar a participação no crédito para o varejo — crucial para aumentar a rentabilidade do banco.

O Santander fez um aporte de R$ 460 milhões e ficou com 60% da Olé. 

Tudo ia bem até que, durante a elaboração do plano de negócios 2019-2021, no fim do ano passado, as divergências começaram a surgir. 

Os Pentagna Guimarães alegaram que o sócio estava sendo muito conservador no plano, com premissas de crescimento e margens menores do que o negócio vinha rendendo nos últimos anos, e exerceram seu direito de veto sobre o plano. 

Mas ignorando o veto, o conselho da Olé, no qual o Santander tem maioria, decidiu seguir adiante com o plano. Em resposta, a família entrou com uma liminar, que suspendeu a vigência do plano em janeiro. 

O plano de negócios é importante porque, pelo contrato da JV, ele serviria de base para a definição do valor da empresa quando a opção de venda put fosse exercida (a Bosan poderia exercer a ‘put’ a partir de fevereiro deste ano).  

O juiz enviou a disputa para uma corte arbitral.

Começou então uma batalha de laudos, marcada por liminares e desconfianças de ambos os lados. 

Os Pentagna Guimarães contrataram a Ernst & Young, que chegou a um valuation superior a R$ 4,5 bi.  Já o Santander contratou o Morgan Stanley, que chegou a um valuation mais próximo dos R$ 3 bi. 

Os mineiros, no entanto, contestam a validade da avaliação preparada pelo Morgan Stanley.  Segundo fontes próximas à família, o laudo tem apenas duas páginas, nenhum detalhamento sobre as premissas e sequer a assinatura oficial de um responsável pelo documento. O documento do MS foi chamado de “valuation study” e não de “laudo de avaliação”. 

Dados do Banco Central mostram que o negócio vai de vento em popa. No acumulado até agosto, a Olé lucrou R$ 329 milhões, 98,5% mais que no mesmo período de 2018. Considerando os últimos 12 meses, o lucro foi de R$ 507 milhões. 

Procurado, o Santander disse que “não se manifestará publicamente sobre o tema, em respeito ao compromisso de confidencialidade [do processo de arbitragem]”. Os Pentagna Guimarães também não quiseram comentar.