Se existisse um campeonato de Nobel entre as Big Techs, o Google muito provavelmente subiria ao pódio: nos últimos dois anos, cinco atuais ou ex-funcionários da empresa foram premiados.

A mais recente premiação veio hoje, quando John Clarke, Michel H. Devoret e John M. Martinis receberam o Nobel de Física por conta de estudos feitos na década de 1980 sobre o “tunelamento quântico”, que possibilitou a criação de computadores superpotentes com o uso dos princípios descobertos pelos pesquisadores.

Do trio de vencedores, dois têm ligação direta com o Google.

Devoret é o cientista-chefe de hardware do laboratório de Inteligência Artificial Quântica do Google, enquanto Martinis esteve na equipe de hardware do laboratório quântico da empresa entre 2014 e 2020. Clarke é professor emérito na Universidade da Califórnia em Berkeley.

“O trabalho pioneiro deles em mecânica quântica na década de 1980 tornou possíveis os avanços recentes e abriu caminho para o desenvolvimento de computadores quânticos com correção de erros,” disse o CEO do Google, Sundar Pichai.

O Comitê do Nobel exaltou os vencedores por demonstrarem que “as propriedades bizarras do mundo quântico podem se tornar concretas em um sistema grande o suficiente para ser segurado na mão.”

A pesquisa do trio abriu caminho para aplicações reais da mecânica quântica, usadas hoje em smartphones e cabos de fibra ótica.

O trio descobriu que o tunelamento quântico – a propriedade que uma partícula tem de conseguir atravessar diretamente uma barreira – também pode ser observado em escala macroscópica, e, em 1984 e 1985, os pesquisadores desenvolveram um sistema elétrico supercondutor em que partículas conseguem atravessar objetos sólidos sem alteração de forma ou composição, como se uma bola de tênis pudesse atravessar uma barreira em linha reta sem ricochetear, um fenômeno nomeado de “Junção Josephson”. 

“As ‘Junções Josephson’ formam a base dos bits quânticos supercondutores utilizados atualmente, incluindo aqueles usados no Google Quantum AI”, disse a empresa numa nota em que parabeniza os vencedores.

“O trabalho de Michel e John possibilitou o progresso que alcançamos até agora, incluindo […] o feito de 2019, quando demonstramos que um computador quântico poderia realizar um cálculo de referência impossível para um computador clássico.”

Devoret e Martinis agora se juntam a uma lista de cinco funcionários e ex-funcionários do Google vencedores do Nobel. 

A lista também conta com Demis Hassabis e John Jumper, vencedores do Nobel de Química de 2024 e cientistas do laboratório de AI do Google, o DeepMind; e Geoffrey Hinton, um pesquisador do Google até o ano passado que venceu o Nobel de Física de 2024. Ele foi apelidado de “padrinho da AI” por seu trabalho no Google Brain, o primeiro braço dedicado a AI criado pela empresa.

O domínio do Google nos últimos anos coincide com o que aparenta ser um foco da academia sueca em premiar trabalhos de IA nos últimos anos, mas também sublinha o fato de que alguns avanços só são possíveis com os dados e os recursos praticamente infinitos de uma empresa de tecnologia.