Não estão claros os motivos que levaram à renúncia, esta noite, do CEO da BRF, José Aurélio Drummond.

A explicação mais fácil seria fadiga de material.  Apesar de ter apenas 53 anos, Drummond, que assumira o cargo em dezembro, enfrentou dois meses de tensão máxima com a briga pública entre os fundos de pensão e Abilio Diniz, enquanto a ação da BRF derretia e a empresa enfrentava uma diligência policial e um embargo europeu.

Mas parece haver algo a mais nesta renúncia, que vem a 48 horas da assembleia de acionistas que elegerá o novo conselho. Depois do vai e vem entre Abilio e os fundos, tudo indicava que o novo conselho optaria por uma solução de continuidade, com Pedro Parente como chairman e Drummond como CEO.

Uma explicação mais plausível é que Drummond pediu o boné quando percebeu que ficaria subordinado a Parente, que em vez de ser um chairman protocolar, poderia exercer uma função mais executiva, algo que seria incompatível com suas funções na Petrobras.

A questão na cabeça de muitos participantes do mercado é onde Parente arranjará tempo para se dedicar ao turnaround épico exigido na BRF quando a presidência da Petrobras já é um full-time job?

“Se eu fosse um minoritário da Petrobras, eu ficaria preocupado,” diz uma fonte independente, sem nada em risco na BRF ou na Petrobras. “Uma coisa é o Pedro ser conselheiro da B3, que é um negócio já estável [um monopólio de fato], com um CEO estabelecido há tempos e uma agenda mais light.  Outra coisa é a BRF.”

As tentativas de consenso têm custado caro à BRF.  Os fundos de pensão desistiram do voto múltiplo por temer que, se obtivesse o apoio da Tarpon, Abilio poderia eleger até três dos 10 conselheiros.  Três conselheiros não impedem que a maioria faça o que deseja, mas podem ‘criar caso’ nos comitês e transformar a vida do management num inferno.

Com este cálculo na cabeça, os fundos abriram negociações com Abilio, que primeiro tentou emplacar Luiz Fernando Furlan como chairman.  Quando isto não funcionou, Abilio propôs a Walter Mendes, o presidente da Petros, o nome de Parente. Abilio calculou que os fundos não poderiam dizer não a Parente, a quem considerava um substituto à sua altura. Mendes convidou Parente, que inicialmente resistiu ao convite. Flávia Almeida, braço-direito de Abilio em seu family office, mais tarde ajudou a convencer o presidente da Petrobras.

O consenso foi construído, mas, pelo jeito, faltou combinar com Drummond, que agora deixa a BRF à procura de seu quinto CEO em cinco anos.

Um nome que será lembrado é o de José Antonio Fay — o ex-CEO da Perdigão ligado a Nildemar Secches — que presidiu a BRF entre 2008 e 2013.

Fay provavelmente não seria um nome de consenso, mas a BRF talvez precise menos de consenso e mais de alguém que conheça suas alavancas e entenda bem seus desafios. A companhia não tem, literalmente, tempo a perder.