A Prisma Capital – a gestora de special situations de Marcelo Hallack, Lucas Canhoto e João Mendes – acaba de fundir todos os seus ativos de energia com a Matrix, a empresa que é dona da maior comercializadora independente de energia do Brasil com um faturamento de mais de R$ 2,5 bi.
A fusão vai criar uma joint venture – batizada de Matrix Participações – que será detida 50/50 pela Prisma e pela Duferco, um conglomerado suíço com atividades em shipping, aço e energia e que detém 100% da Matrix.
Os ativos da Prisma incluem um pipeline de projetos de parques eólicos e solares que somam mais de 1,5 GW de capacidade de geração. Esses projetos vão demandar um capex de cerca de R$ 6 bilhões e devem ser concluídos até 2026.
O timing das obras é estratégico: o deadline é o prazo limite para que os ativos tenham direito ao desconto de 50% na tarifa cobrada pelo uso dos sistemas de transmissão e distribuição.
Pela regulação, os projetos de geração centralizada autorizados pela ANEEL têm um prazo de 48 meses de implementação para serem elegíveis a este desconto.
A Prisma também vai contribuir com seu negócio de geração distribuída (a Sun Mobi), bem como capitalizar a JV com um aporte de R$ 550 milhões. Somando esse caixa com os ativos, a nova empresa já vai nascer com um patrimônio líquido de mais de R$ 1 bilhão.
A transação cria uma plataforma de energia independente e – mais importante – integrada, o que vai permitir gerar sinergias relevantes da operação.
“Toda hora quebra uma comercializadora porque elas podem vender energia a descoberto sem ter que depositar margem: se o preço sobe, elas tem que vender mesmo assim, e se não tiveram a energia para entregar, tem que comprar no mercado pagando muito mais do que o preço que venderam,” Canhoto disse ao Brazil Journal.
“A beleza dessa fusão é que tendo a geradora a gente não vai ter esse problema. Quando vendermos a energia pela comercializadora, vamos usar a energia gerada nos nossos próprios parques para cumprir os contratos.”
O financiamento dos projetos vai ser uma mescla de dívida e equity. Hallack diz que o plano é financiar 50% do capex com empréstimos (um mix de project finance e debêntures de infraestrutura) e o restante com o caixa da empresa.
A estrutura é diferente do padrão dessa indústria, que normalmente financia 75% com dívida.
Há uma explicação para isso: para financiar 75% do capex com dívida, a empresa precisaria ter uma parte muito grande da sua energia já vendida em contratos de longo prazo.
“Queremos intencionalmente deixar a nossa energia não vendida para conseguir vender na comercializadora, onde podemos conseguir condições melhores,” disse Rubens Misorelli Filho, da Matrix. “Nossa ideia é vender 50% da energia em contratos de longo prazo para grandes empresas e 50% pela comercializadora.”
A transação vem num momento em que o setor de energia está prestes a passar por mudanças regulatórias tectônicas.
Um projeto de lei em fase final na Câmara – o PL 414/2021 – propõe abrir o mercado livre de energia para todos os consumidores (mesmo os residenciais).
Hoje, o mercado livre tem apenas 20 mil clientes (pontos de medidores instalados). O PL adicionaria a este mercado mais 300 mil clientes potenciais na alta tensão. Já na baixa tensão – tipicamente, o uso residencial – 80 milhões de clientes poderão migrar para o mercado livre.
Na prática, isso vai permitir que qualquer pessoa compre sua energia direto no mercado livre (de players como a Matrix) – um business no qual a Duferco já tem vasta experiência na Itália – gerando economias significativas. (Na baixa tensão, por exemplo, enquanto o megawatt/hora custa de R$ 1.000 a R$ 1.500 no mercado regulado, no mercado livre a expectativa é que haja uma redução de cerca de 30%).
Neste novo ambiente regulatório, as distribuidoras passarão a operar basicamente como um negócio de infraestrutura, ganhando por disponibilizar suas redes.