A Principia – uma edtech focada em soluções financeiras e de ERP para instituições de ensino – acaba de levantar R$ 80 milhões para escalar seu produto de receita garantida e seu software de gestão acadêmica com agentes de IA.
O aporte foi uma extensão da rodada Série A que a startup fez em 2023 e foi liderada novamente pela Valor Capital, que já investiu em unicórnios como Gympass, Olist e Stone. Na época, a Principia levantou R$ 50 milhões.
O investimento também teve a participação da ARC Capital, Supera, Spectra, FJ Labs e Actyus, além da entrada da AXA e da Crestone.
A Principia foi fundada em 2022 por Newton Maia, um engenheiro formado pelo ITA e ex-diretor da Advent que trabalhou em investidas do fundo como a Kroton (hoje Cogna).
Newton percebeu que uma das maiores dores das instituições era a inadimplência: como a legislação impede que alunos matriculados sejam impedidos de frequentar as aulas mesmo atrasando mensalidades, muitos deixam de pagar.
“Eles vão acertar o atraso somente na hora da rematrícula semestral (quando a faculdade pode trancar o curso). Isso torna o gerenciamento do caixa da universidade trabalhoso, mas é algo previsível,” Newton disse ao Brazil Journal.
Com esse problema em mente, Newton pensou numa tecnologia que pudesse antever essa inadimplência e fazer projeções de caixa e de evasão. Deu certo. Com ela em mãos, a Principia criou uma espécie de seguro para as instituições, chamado de “receita garantida”, que hoje representa 70% do faturamento da startup.
Desta maneira, a faculdade – ou até mesmo a escola – tem mais previsibilidade de suas contas.
“Se eu acho que a inadimplência será de 10%, cobro 15%. Pago 85% para a universidade e emito os boletos para os alunos. Eu cuido da cobrança, do atendimento e do risco,” disse o fundador.
Segundo Newton, a cobrança é feita com agentes de inteligência artificial e por meio de aplicativos como o WhatsApp, o que fez reduzir a evasão em 20% nas instituições parceiras e aumentou de 65% para 75% o percentual de alunos que pagam a mensalidade em dia.
Hoje, a Principia já atende mais de 600 instituições de ensino com 500 mil alunos. No primeiro trimestre, a edtech teve um faturamento anualizado de R$ 170 milhões, segundo Newton.
Para financiar essa operação, a empresa também anunciou que levantou R$ 110 milhões por meio de FDICs e securitizadoras.
Foi a segunda operação com FDICs da história da empresa: em 2023, a Principia captou R$ 150 milhões.
Apesar de ver ainda bastante espaço para crescer no programa de receita garantida, uma grande aposta da startup é seu ERP acadêmico, que já é utilizado por mais de 100 instituições.
A ferramenta automatiza tarefas como rematrícula, ensalamento e secretaria acadêmica – o que reduz custos operacionais das instituições e melhora a experiência do aluno.
Segundo Newton, a Principia construiu um sistema operacional onde a faculdade ou escola consegue resolver tudo: matrícula, notas, cobrança, inadimplência e emissão de boletos, tudo de maneira automatizada.
“A instituição de ensino passa a se preocupar apenas com a educação dos seus alunos,” disse.
O ERP também permite que outras soluções sejam embarcadas, criando uma espécie de “App Store” da educação. Entre as ferramentas já integradas estão programas de assinatura digital e de emissão de diplomas.
Além disso, a ferramenta vira uma fábrica de dados para a própria Principia entender a atual situação dos alunos, o que ajuda a reduzir a inadimplência de seus produtos financeiros, como o receita garantida.
A empresa também tem um negócio B2C que dá crédito para financiar cursos livres – como cursos de programação, de idiomas e os criados por influenciadores.
Nestes casos, quando um aluno é aprovado, a Principia paga 80% do valor do curso diretamente ao dono do curso e assume o risco de crédito.
Para dar o crédito, a Principia leva em conta dados de bureaus de crédito, a localização do aluno, o tipo de curso, o histórico da escola e o potencial de geração de renda após a formação.
Com esses dados em mãos, a empresa consegue dar crédito até para alunos que não têm limite no cartão no momento da compra – a Principia recebeu a certificação B Corp por causa do impacto social do produto.
“O peso maior do meu motor de crédito não está nos dados do Serasa ou do Banco Central. Está nos dados próprios que criamos. Dessa maneira, conseguimos até dar um ‘benefício da dúvida’ para esse aluno,” disse.
Segundo ele, a inadimplência desse produto é de cerca de 20% – e ainda assim, resulta em uma boa margem para a Principia.