As bolsas americanas aceleraram o rali no final do pregão e os juros futuros caíram depois que o Federal Reserve indicou uma possível redução no ritmo do aperto monetário.
O Fed elevou novamente a sua taxa básica em 0,75%, como amplamente antecipado, para o intervalo entre 2,25% e 2,5%. Com a inflação rodando em 9% ao ano, o BC americano já telegrafou que continuará subindo os juros nas próximas reuniões.
O aperto, contudo, poderá ser menos intenso daqui para a frente. Adotando um tom mais dovish do que o esperado na entrevista coletiva após o anúncio, Powell demonstrou preocupação em não exagerar na dose.
Diminuiu, ao menos por ora, o receio dos investidores de que o Fed afundará a maior economia do planeta em uma recessão severa numa luta Volckeriana para conter uma inflação que muitos julgam fora de controle.
A frase mais festejada pelos mercados foi: “Com o avanço do aperto monetário, provavelmente será apropriado reduzir o ritmo de aumento [dos juros] enquanto observamos como o efeito acumulado dos ajustes estão afetando a economia e a inflação,” disse Jerome Powell.
A declaração foi interpretada como um discurso clássico de banqueiro central indicando a disposição de dar uma pausa na alta dos juros.
“Powell demonstrou o desejo de deixar claro que eles já chegaram rapidamente ao juro neutro, como prometido, e agora o Fed talvez precise seguir de maneira mais lenta,” disse o gestor dos fundos de multimercado da XP Asset, Bruno Marques.
Para o CIO da WHG, Andrew Reider, as declarações validaram as apostas do mercado, implícitas na curva de juros futuros, de que o ciclo de alta poderá ser encerrado ainda este ano, e que o Fed poderá cortar a taxa já no primeiro semestre de 2023.
Depois do discurso mais hawkish de Powell no mês passado, o mercado tinha entrado em modo bearish. A partir de agora, dizem os gestores, poderá haver uma inflexão. O S&P 500 tocou o seu ponto mais baixo no ano um mês atrás e, desde então, já subiu 8%.
“Para o Brasil, o discurso de Powell foi relevante. As altas agressivas de juros ficaram para trás. Os ativos brasileiros estiveram entre os valorizados,” disse Reider. “Por isso vimos a bolsa subindo tanto hoje e as taxas pré fechando. Um Fed preocupado com a atividade favorece as commodities. O investidor global vê o Brasil como proxy disso. O Brasil tinha ido super mal em junho quando os mercados estavam colapsando.”
Outro motivo para injetar ânimo nos investidores foi o fato de Powell ter afirmado que não vê evidências de uma recessão na economia.
Existe um debate se os Estados Unidos entrarão ou não em uma “recessão técnica”, isto é, se haverá um recuo da atividade em dois trimestres consecutivos. Mais relevante para o mercado, entretanto, é a profundidade da retração, caso ela venha a ocorrer.
Powell reforçou que o Fed continuará buscando o pouso suave, esfriando a alta de preços sem que para isso seja necessário sufocar o PIB.
“Não estamos tentando provocar uma recessão e não acreditamos que precisemos de uma recessão,” disse o presidente do Fed.
Com o índice de preços subindo 9% ao ano, o maior ritmo desde os anos 80, o Fed age para retomar as rédeas da inflação e trazê-la para a meta oficial de longo prazo, de 2%.
Para a reunião de setembro, havia a expectativa de que o Fed pudesse fazer um novo aumento de 0,75%. Powell, entretanto, enfatizou que não existe nenhuma decisão tomada a respeito.
O Fed mais dovish contribui para retirar pressão de alta do dólar, aliviando a inflação brasileira. É uma possível boa notícia para o Presidente Bolsonaro na reta final da eleição. O problema: o aumento de gastos públicos, criado justamente pela base de apoio a Bolsonaro no Congresso, poderá adiar o fim do aperto dos juros do Banco Central.
“Teremos um impacto fiscal violento no segundo semestre,” afirmou Marques, da XP. “Isso atrapalha a vida do BC brasileiro.”