O Banco BR Partners está se preparando para abrir o capital num IPO que o tornará o segundo banco de investimento independente listado na B3.
Segundo a coluna de Lauro Jardim, o banco contratou BTG Pactual, Bank of America-Merrill Lynch e Credit Suisse para coordenar uma oferta 100% primária que deve levantar por volta de R$ 600 milhões.
Uma partnership à la Goldman Sachs e BTG antes de seus IPOs, o BR Partners faz mais de 60% de sua receita com assessoria financeira. O banco já participou de mais de 120 M&As somando mais de R$ 250 bilhões. No ano passado, deixou para trás bancos maiores e globais e liderou os quatro rankings de M&A do Brasil — Bloomberg, MergerMarket, Thomson Reuters e Dealogic (este ano, manteve a liderança em três deles no primeiro semestre).
Mas o negócio de M&A é gerador de caixa e não demanda capital. A grande motivação do IPO deve ser levantar recursos para aumentar a exposição do banco aos produtos de sua própria área de debt capital markets, que origina, estrutura e vende CRIs, fundos imobiliários e debêntures.
A área — liderada por um dos sócios, Danilo Catarucci, ex-Citi e XP — tem contato diário com uma centena de family offices e investidores institucionais e transformou essa base num canal proprietário, desintermediando a distribuição de produtos feitas pelos grandes bancos. Um negócio que cresce exponencialmente e deve representar 30% da receita do banco este ano.
Hoje, o BR Partners mantém no balanço menos de 5% dos produtos de dívida que vende aos clientes. Com os recursos da oferta, o banco poderá elevar esse percentual a 30%, além de poder competir por transações maiores, o que aumentaria substancialmente sua rentabilidade.
O IPO também pode turbinar a tesouraria do banco, que age como contraparte de grandes empresas em produtos como hedges e swaps. Hoje, a tesouraria abre spread para as maiores companhias do País, mas o volume transacionado é limitado pelo balanço.
O BR Partners também tem usado a crise para crescer em reestruturações financeiras de dívidas, uma área dominada pelas boutiques independentes e onde os grandes bancos não atuam.
O BR Partners foi fundado há 10 anos por Ricardo Lacerda, Andrea Pinheiro e Jairo Loureiro, ainda hoje os maiores sócios.
Lacerda chefiou a Goldman Sachs no Brasil e o Citigroup na América Latina. Quando fundou o BR Partners, ofereceu sociedade a 11 grandes clientes para os quais havia trabalhado, incluindo as famílias Alves de Queiroz (Hypera), Feffer (Suzano), Seripieri (ex-Qualicorp e agora QSaúde), Vasone (ex-Hospital São Luiz), Verdi (Rodobens) e Zogbi (ex-Ripasa).
Hoje, essas famílias detêm metade do capital total do banco na forma de PNs — e, segundo pelo menos três delas, ninguém pensa em vender participação na oferta.
Para um gestor, o BR Partners deve ser analisado como um “mini-BTG”. “Apesar do negócio de banco de investimento ser comum aos dois, o BR Partners não tem uma operação de asset management nem a exposição ao varejo que o BTG está construindo,” disse esse gestor, que tem o BTG na carteira.
Esta oferta será a primeira vez que os investidores brasileiros terão que modelar o que é essencialmente uma empresa de serviços financeiros com um componente crescente de tomada de posições em mercados de capitais, crédito estruturado e derivativos. Nos EUA e Europa há vários bancos focados em assessoria financeira listados em bolsa, como Lazard, Evercore, PJT, Moelis e Greenhill. Neste tipo de negócio, a receita com M&A tende a ser de alta qualidade e excelente margem, mas precisa ser reconstituída constantemente.
“O problema de um banco assim é ele ficar dependente de uma grande transação,” diz outro gestor. “Tem que ver se existe essa dependência, mas pode ser mais um nome que se beneficia da desintermediação e da tese do ‘financial deepening.’” Para esse investidor, as ofertas recentes de BTG e XP “demonstram que essa tese está alive and kicking.”
Curiosamente, a disrupção causada pela pandemia tem ajudado butiques de M&A como a BR Partners e a G5 a herdar mandatos que antes estavam com os grandes bancos globais. Como boa parte da execução destes bancos é feita por times baseados em Nova York ou Londres, agora impossibilitados de viajar, algumas grandes empresas têm buscado soluções locais mais ágeis e sem conflitos.
O BR Partners nunca operou no vermelho, nem mesmo no pico da recessão dos últimos anos. O lucro cresceu de R$ 39 milhões em 2017 para R$ 50 milhões em 2018 e R$ 76,5 milhões em 2019 — uma margem de 33% sobre o faturamento líquido de R$ 228 milhões. O retorno patrimonial ficou em 27%.
Apesar de já ter investidores financeiros desde a largada, um dos desafios do banco será adaptar sua cultura de partnership às exigências de uma empresa de capital aberto, o que envolve reter e promover talentos num nicho de mercado onde as pessoas são a alma do negócio.
O IPO do BR Partners deve ser o primeiro de uma séria de nomes do setor financeiro. Estão na fila o Banco Daycoval, que abortou uma oferta no início da pandemia, o BV (antigo Votorantim), Paraná Banco, Modal Mais e Agibank.