Em meados de 2011, quando soube que João Dionísio Amoêdo havia decidido fundar um partido político, minha primeira reação foi de surpresa e curiosidade.
Queria entender como alguém podia ser tão idealista a ponto de querer fundar um novo partido, diferente do famoso “tudo que está aí.”
Fui conferir e, logo na primeira apresentação, me identifiquei com a proposta: os motivos, os objetivos e os caminhos escolhidos.
Tudo fazia sentido, além de ser uma forma de filantropia com possibilidade real de melhorar a vida das pessoas em escala. Comprometi-me a dedicar inicialmente duas horas semanais de trabalho voluntário, sem imaginar o quanto aquilo mudaria minha vida.
Desde então, esperança, inspiração, propósito e renovação são algumas das palavras que sempre associo ao NOVO.
Nove anos se passaram e, mês passado, entrei como co-autora de uma ação judicial contra uma decisão do partido: num ato autoritário e anti-democrático, o atual presidente convocou uma Convenção Nacional por um rito irregular, visando fortalecer a si próprio com a aprovação do voto de minerva, propositadamente não previsto no estatuto para que todas as decisões sejam tomadas por colegiado.
Mais alarmante que o objeto da convenção em si foi o rito, que alterava o quórum votante para um quórum favorável ao resultado desejado, desrespeitando disposições estatutárias e abrindo um precedente perigoso, com risco de desvirtuar o partido da sua essência. Tentamos previamente alertar o presidente sobre os riscos e irregularidades, mas a reação foi um deboche sutil.
Foram semanas amadurecendo a decisão da judicialização. A opção era entre ‘fly or fight’, mas avaliando todos os riscos, custos e desgaste, prevaleceu o caminho mais difícil: partir em defesa do estatuto que temos por missão proteger, visando manter a Instituição fiel à proposta original.
O NOVO não nasceu para tentar fazer melhor o que os outros 32 partidos fazem: queremos fazer de um jeito diferente. Construir esta realidade vem sendo uma trajetória cheia de dificuldades e obstáculos, mas predominantemente enriquecedora, cheia de aprendizados, divertida e vitoriosa.
Nas eleições 2018, o NOVO despertava como a esperança de renovação política. O partido que veio para fazer tudo diferente chacoalhava o universo político e nos enchia de orgulho e emoção: o até então desconhecido João Amoêdo em 5o lugar na disputa presidencial, Romeu Zema eleito governador, e deputados federais e estaduais em 5 estados.
Tudo isto sem usar dinheiro público e com uma estrutura partidária enxuta, num mundo político com décadas de histórico perverso que os novos entrantes tentavam mudar.
Junto com os resultados, vieram as cobranças por entregas. Nossa missão era fazer valer as propostas de boas práticas políticas que atraíam nossos apoiadores, agora espectadores ansiosos.
No NOVO, estamos representados por três grupos: dirigentes partidários, filiados/apoiadores e mandatários eleitos. Cada grupo tem um papel, mas o objetivo é, ou deveria ser, comum.
Com as dores do crescimento, entrou em cena um agente inesperado: a tal mosca azul do poder. Ela picou representantes dos 3 grupos e desmascarou verdades.
Os reais objetivos de uns não são os que pareciam ser; o pragmatismo de outros se contrapõe à rigidez de valores dos mais convictos; e sobretudo, há muita divergência sobre a forma e caminhos para atingir os objetivos.
A pressa em evoluir nas carreiras políticas não combina com um projeto de longo prazo e, para completar, existe a frustração dos apoiadores mais imediatistas, que esperavam do NOVO soluções definitivas para o Brasil em 6 meses.
Além das questões internas que o partido enfrenta para implementar um modelo jamais testado de fazer política, veio a pandemia e um (des)governo polarizante, piorando a qualidade do debate.
Neste contexto, as disputas de espaço e poder no partido têm sido inevitáveis, agravadas pela liderança frágil de um jovem presidente que assumiu o cargo sem a certeza do que poderia entregar, apesar da intenção de fazer o melhor.
Após 20 meses de sua presidência, vemos uma instituição enfraquecida no cenário político nacional e um líder que, convocado a avaliar sua própria atuação, priorizou a sobrevivência no cargo em detrimento da Instituição, isentando-se de qualquer responsabilidade pelos resultados ruins e atribuindo 100% das mazelas a terceiros – no caso, à executiva nacional (que se reportava diretamente a ele) e a João Amoêdo, o idealizador e maior responsável pelo que o projeto já construiu de positivo até aqui.
Considero um resultado ruim o partido dividido, perdendo a confiança de apoiadores por falta de posicionamentos firmes, enfraquecendo a marca e dando espaço a oportunismos externos – sintomas que o atual presidente insiste em não enxergar, direcionando energias a construir sua base de apoio junto aos diretórios estaduais e municipais.
Nosso nome vem da inovação, e não de uma novidade passageira. Viemos com um projeto de mudar a política e não como um projeto de poder. As ideias precisam ser maiores que as pessoas, e os projetos pessoais não podem prejudicar os coletivos. A meta deve ser fazer o certo, com coerência e consistência.
E foi por acreditar nisto que recorremos à Justiça, em defesa do que consideramos ser o melhor projeto político nacional. Desistir do NOVO não é uma opção.
Patricia Vianna é secretária nacional de assuntos institucionais e legais do Partido Novo e membro do diretório nacional.