Encher uma sacola com roupas da Zara sai mais caro no Brasil do que em todos os principais mercados em que a varejista de moda opera.

Isto é o que mostra o Zara Index, que mede os preços de 12 produtos vendidos em lojas da Zara de 43 países e os compara com os valores praticados nas lojas americanas da rede  convertendo os preços para dólar. Criado pelo BTG Pactual, o índice acaba de fazer sua quarta medição.

A conclusão deste ano: enquanto em países como Eslovênia, Grécia e Portugal os valores são entre 29% e 36% mais baratos que nos Estados Unidos, por aqui os preços são 18% superiores. Além do Brasil, só o Japão tem preços maiores que os dos EUA.

O curioso é que isso ocorreu apesar do real ter sofrido uma das maiores desvalorizações frente ao dólar no grupo de países analisados uma queda de 14% nos últimos doze meses. (Como os valores dos produtos são convertidos para a moeda americana, a valorização do dólar ajuda na competitividade dos mercados locais, já que os preços, em dólar, ficam mais baratos).

Por que, então, o custo da Zara no Brasil é maior que o do resto do mundo?

Os suspeitos de sempre: a complexidade tributária com uma diversidade grande de impostos, uma carga elevada e diferenças enormes dependendo dos Estados  somada a uma logística cara e ineficiente são as explicações mais óbvias.

Mas, no caso da Zara, há também fatores ligados à operação no Brasil, onde a espanhola adotou um modelo operacional diferente do que usa na Europa e em seus principais mercados.

A produção local é muito baixa, representando menos de 10% do volume de vendas da varejista, o que gera um maior risco cambial e torna mais longo o chamado ‘lead time’ o tempo gasto do desenvolvimento da coleção até a chegada às lojas, e uma das métricas cruciais do ‘fast fashion’. (Quanto mais curto o ‘lead time’, maior a chance de acerto nas coleções).  

A produção local da Zara no Brasil é disparada a menor do mundo. Apenas 92 das 7,2 mil fábricas da varejista ficam no Brasil e Argentina; enquanto na Europa são mais de 3,5 mil; na Ásia, 3 mil; e na África, 390.

“A Zara chegou a ter uma gama ampla de fornecedores no Brasil, mas acabou desistindo”, diz Fabio Monteiro, o analista do BTG. Há dez anos, segundo ele, mais de 40% do volume de vendas da subsidiária brasileira era produzido localmente. Problemas com alguns fornecedores, no entanto, fizeram com que a rede acabasse preferindo focar na importação.

Em sua operação global, a distribuição dos produtos é centralizada, e boa parte das fábricas estão concentradas em países próximos aos centros de distribuição. Espanha, Portugal, Marrocos respondem por mais de 57% do parque fabril.

A maior parte das roupas fabricadas pela Zara no mundo são enviadas para três grandes CDs na Espanha. De lá, os produtos são distribuídos, por navio ou avião, para os 96 países em que a companhia opera.  

Apesar de incorrer custos maiores do que se a produção fosse toda na China, este arranjo permite à Zara uma maior agilidade na distribuição e um melhor controle dos estoques, o que acaba compensando os custos.

Apesar de ruim para os consumidores, o preço mais alto praticado no Brasil se torna uma vantagem para os concorrentes nacionais. Diversos segmentos do varejo brasileiro são dominados por empresas locais, o contrário do que acontece em outros mercados emergentes.

“A Inditex [holding dona da Zara] não consegue ter no Brasil a mesma margem operacional que tem no resto do mundo. A margem aqui é inferior à média global”, diz Monteiro.

Quando entrou no País, em 1999, o plano da Zara era chegar a 100 lojas em três anos. Até agora, as coisas não saíram como o esperado: em quase 20 anos de operação, a espanhola sequer chegou a 60.