A ação da Raízen tem subido substancialmente mais que o setor ao longo do último mês, com o investidor internacional voltando a montar posição.

Nos 30 dias até ontem, a ação da Raízen sobe 26%, contra uma alta de 6% na Ultrapar e uma queda de 0,6% na Vibra.

Em linha com o resto do mercado, o rali atual começou no final de março, depois que o papel bateu uma mínima histórica de R$ 2,26.

Mas a ‘perna’ mais recente veio depois que a dona dos postos Shell fez um Investor Day concorrido no final de maio e o management passou as quatro semanas seguintes num roadshow internacional.

Cerca de 70% do free float da Raízen está na mão de investidores internacionais – ou seja, quem faz preço no papel não é nem o Leblon nem a Faria Lima.

Com isso em mente, mal o Raízen Day havia terminado, o management meteu o pé na estrada, fazendo 59 reuniões em Nova York, Boston, Miami, Toronto, Londres, Edinburgh e Oslo – incluindo três conferências: Bradesco BBI em Londres, BofA em Miami e Scotiabank em Toronto.

A mensagem do Raízen Day foi clara: a empresa está focando em projetos de alto retorno, o pico do capex é agora, e a companhia começará a colher os resultados dos investimentos massivos nos próximos anos, incluindo as plantas de etanol de segunda geração (E2G) e sua vertical de energia. 

O management tem vendido o que a empresa chama de suas cinco ‘avenidas de crescimento’.

A primeira delas é a produtividade agrícola. A Raízen está investindo R$ 6 bi por ano na readequação dos canaviais, o que deve aumentar substancialmente sua produtividade. Hoje, a companhia produz 70 toneladas de cana por hectare. O objetivo é chegar a 83 toneladas/hectare até 2026. 

“Isso gera uma alavancagem operacional muito grande pela diluição do custo fixo,” o CFO Carlos Moura disse ao Brazil Journal. 

Após a conclusão desse trabalho, a Raízen espera chegar a uma produção de 94 milhões de toneladas moídas na safra de 2026. No ano passado ela produziu 73 milhões, e este ano deve chegar a 80 milhões. 

A segunda avenida é aumentar o valor agregado do etanol vendido pela empresa. 

Hoje, a Raízen vende quatro tipos de etanol: o hidratado, que é vendido no posto como combustível, o anidro, usado para aditivar a gasolina e reduzir as emissões, o neutro, que é usado para produzir bioplásticos, álcool gel, cosméticos e bebidas; e o de segunda geração, que é a matéria-prima para a produção do combustível sustentável de aviação.

O preço de venda vai escalando em cada um deles. O hidratado é vendido a R$ 2.700 o metro cúbico; o anidro, por R$ 3.000; o neutro, por R$ 4.000; e o de segunda geração – que tem um custo de produção muito baixo – por R$ 6.000.

O plano da companhia é expandir cada vez mais a venda do etanol com maior valor agregado. 

A terceira avenida é o mercado de açúcar, onde o preço está na máxima histórica em reais – dado o preço lá fora e o nível do câmbio aqui dentro. Basicamente, o preço tem subido por uma queda na oferta na Ásia, onde a produção foi impactada por questões climáticas.  A caloria mais barata do mundo, a demanda tem subido 1% ao ano desde 2011.

De 2018 até hoje, o preço saiu de US$ 0,12 por libra para US$ 0,22 por libra. 

O mercado futuro já projeta que esse preço deve cair suavemente ao longo dos próximos dois anos – mas para um nível ainda positivo em termos de rentabilidade. 

Há ainda a Raízen Power, que já faz um EBITDA de R$ 1 bilhão, ainda está escalando e deve gerar uma alavancagem operacional importante.

A companhia hoje produz energia a partir de 30 bioparques – que usam o bagaço da cana como matéria prima – e centenas de parques solares. A tese é alavancar o acesso que a empresa já tem aos clientes para vender essa energia a preços mais competitivos. 

Por fim, na vertical de Mobilidade – basicamente, a rede de postos Shell, que responde por 75% da receita e 28% do EBITDA da companhia – a Raízen está investindo em sua rede embandeirada, em vez de focar nos postos bandeira branca, onde a margem é mais baixa.

A companhia está intensificando o marketing e melhorando a precificação da Shell VPower (a gasolina aditivada), lubrificantes e aumentando a atividade promocional no ShellBox, o programa de fidelidade da companhia, que tem 15 milhões de usuários.

O capex da Raízen cresceu de R$ 7,7 bi em 2021 para R$ 11,3 bi em 2022 e um pico de R$ 13-14 bilhões este ano – o que inclui R$ 3-4 bi dedicados à construção de suas plantas de E2G. O capex total deve cair em R$ 1 bi no ano que vem e gradativamente nos anos seguintes. 

Enquanto faz isso tudo, a empresa tenta manter seu investment grade e um nível de alavancagem prudente (hoje ao redor de 1,6x o EBITDA).

“Devemos fazer algumas vendas de ativos também, para monetizar créditos tributários que temos, principalmente de PIS e COFINS,” disse o CFO.