Está cada vez mais claro quem vai ganhar ‘a guerra das maquininhas’: quem tiver uma oferta ampla de soluções para o varejo — indo muito além… das próprias maquininhas.
Há cerca de duas semanas, a Getnet deu um passo nessa direção comprando o controle da Eyemobile, uma empresa de software de Santa Catarina que desenvolve soluções para PMEs — desde PDVs móveis até softwares de gestão de venda, passando por uma solução de delivery.
Mais que o valor do investimento e o tamanho da Eyemobile (que ainda é pequena), o mais importante foi o valor estratégico da aquisição.
A Getnet deve usar a Eyemobile como plataforma para sua expansão no mercado de softwares de gestão — a mesma estratégia que levou a Stone a comprar a Linx — e espera conseguir vender as soluções da startup para uma parte relevante de sua base de mais de 2 milhões de clientes. (Até agora, a Getnet não tinha nenhuma solução de gestão para pequenos varejistas).
A transação com a Eyemobile foi concorrida: o processo de venda começou no final do ano passado e, na reta final, empresas como Stone, PagSeguro e MercadoLivre também estavam disputando o controle da startup.
A compra da Eyemobile é a segunda da Getnet nos últimos meses. Em outubro, ela já havia adquirido a Minestore, que permite a varejistas criar lojas online num modelo ‘à la Shopify’. A ideia da adquirente é criar um ‘one-stop shop’ para os varejistas, com soluções que vão desde o ponto de venda ao meio de pagamento, passando pelo cartão bandeirado e pelo ERP.
Fundada em 2012 por João Gustavo Pompeo, a Eyemobile começou desenvolvendo um software de vendas para Android que permitia que o vendedor fizesse a venda sem estar no caixa — uma inovação para a época que ajudava principalmente a reduzir as filas em eventos.
Na época, os sistemas de venda, pagamento, e emissão de nota fiscal não eram integrados, e o atendente tinha que andar com três maquininhas na cintura: o tablet com o PDV móvel da Eyemobile instalado, a maquininha de cartão e a impressora portátil.
Hoje, o software da Eyemobile é usado principalmente nos POS digitais, que já tem todos os sistemas integrados. A startup é agnóstica em termos de adquirentes e, mesmo após o investimento da Getnet, continuará com integração com os principais players do mercado.
A ideia da Eyemobile surgiu quando João trabalhava como vendedor de ‘porta a porta’ numa empresa de software de automação comercial de um familiar.
Numa das visitas, um cliente perguntou se o software poderia ser usado para grandes festivais, o que era inviável naquele momento.
“Não consegui fazer aquela venda mas fiquei com aquilo na cabeça. Comecei a pesquisar muito e tive a ideia de criar um caixa móvel para tirar as pessoas da fila,” João disse ao Brazil Journal.
Em pouco tempo, a solução da Eyemobile estava sendo usada no Rock in Rio (2015), nas Olimpíadas do Rio (2016) e em diversos Salões do Automóvel e Comic Cons (CCXP). Em 2019, a Eyemobile já estava atendendo mais de 300 feiras por ano com suas soluções de PDV móvel.
Aí, veio a pandemia.
Da noite para o dia, praticamente todos os 1.200 clientes da empresa cancelaram as assinaturas, derrubando o faturamento em 95%. A solução: migrar para o varejo — onde já tinha uma pequena atuação com empresas como a Chocolates Dengo (os nossos favoritos).
Hoje, além da Dengo, a Eyemobile atende clientes como a Los Paleteros (de paletas mexicanas), a Melt & Co (franquias de sorvetes, fondues e frutas), e a Ice Roll (também de sorvetes).
Antes da Getnet, o único investidor da Eyemobile era Diego Florentino, que fez um investimento-anjo na startup em 2014 e trabalhava na operação. Tanto João quanto Diego continuarão como executivos após a compra.
A Centria Partners assessorou a Eyemobile. O Machado Meyer deu a assessoria jurídica.