Um dos maiores poetas brasileiros, Carlos Drummond de Andrade publicou “Mãos Dadas” em 1940, em meio à Segunda Guerra.
 
O poeta pintava um quadro que, 80 anos depois, tornou-se mais uma vez familiar: os seres humanos “estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças”. 
 
Por fora, Drummond via as pessoas tristes, fechadas, recolhidas; mas sentia que conservavam dentro de si uma esperança possível.
 
Para o professor de literatura Saulo Gomes Thimóteo, o poeta queria “as mãos dadas com todos, não para viver numa realidade paralela e ilusória, mas sim para levantar as esperanças, encarar a realidade e impulsionar o tempo presente e a vida presente.” 
 

Saulo — cujo podcast “Um Professor Lê” vai te ajudar a atravessar a quarentena — diz que os leitores do poema devem desejar a mesma coisa.

“Saber que cada leitura age diretamente sobre si e, a partir disso, alguma coisa se deve modificar. Saber, também, que um livro não tem qualquer poder sobre o mundo. Mas as pessoas que leem, essas têm muito. Especialmente quando vão de mãos dadas.”

 
“Mãos Dadas” é parte do livro “Sentimento do Mundo”, que sobrevive à passagem do tempo como o melhor testamento da humanidade de Drummond.
 
 
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Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
 
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente