O terceiro Fiagro — os recém-criados fundos de investimento nas cadeias produtivas agroindustriais — estreou hoje na B3, mas o começo tem sido difícil para a nova classe de ativos.
Um fundo de R$ 85 milhões captado pela JGP — o primeiro da gestora de André Jakurski — começou a negociar hoje com o ticker JGPX11 e terminou em queda de 3,7%.
“Ainda falta muito investidor para o agronegócio no Brasil,” diz Alexandre Muller, sócio da JGP. “É um setor com muita informalidade e que recorre mais ao financiamento subsidiado. Faltam empresas com controles, auditoria, contabilidade. Está melhorando, mas ainda é um gargalo.”
A captação do fundo, numa semana tensa nos mercados, não foi exatamente fácil.
O Fiagro da JGP pretendia uma captação de R$ 150 milhões, mas teve que fechar com pouco mais da metade desse valor. A oferta, assim como as de outros Fiagros recentes, foi impactada pela reticência dos mercados com produtos estruturados e com os FIIs, que estão sofrendo com a alta da Selic.
A regulamentação do Fiagro foi aprovada este ano pela CVM e o primeiro fundo do tipo foi levantado pela Riza em setembro, antes da piora dos mercados. A Riza conseguiu levantar R$ 301 milhões em um fundo que inicialmente pretendia captar R$ 350 milhões.
O segundo fundo foi levantado pela XP em outubro, captando R$ 141 milhões depois de ter sido lançado pensando numa captação de R$ 350 milhões.
Semana passada, a NCH Capital levantou R$ 42 milhões; a ambição era de R$ 350 milhões. Este fundo ainda não estreou na Bolsa.
Por ser um produto novo num setor resiliente como o agronegócio, muitos gestores decidiram dimensionar fundos maiores, mas o mercado está “impossível” para as ofertas, um dos ofertantes disse ao Brazil Journal. O que ajudou na conclusão dessas operações foi a placa das gestoras envolvidas, segundo ele.
O Fiagro da JGP não pretende comprar apenas certificados de recebíveis agrícolas (CRA) de grandes empresas. A gestora acaba de fortalecer sua área de crédito estruturado, que vai se dedicar a formatar produtos para empresas médias e pequenas.
A JGP optou por um fundo listado porque, como pretende prospectar operações de menor porte, não quer ficar à mercê de resgates — o que aconteceria num fundo aberto.
A JGP também vai envolver sua área de special situations nos investimentos do Fiagro: o mesmo time jurídico vai fazer o background check dos ativos. A partir dos CPFs de acionistas e administradores e dos CNPJs da empresa emissora e coligadas, os advogados levantam todas as informações possíveis — em tribunais, no Ibama, bureaus de crédito e em fontes públicas. A operação só segue para o time de análise da gestora depois de passar por este crivo.
O Fiagro da JGP vai ter remuneração atrelada ao CDI. O fundo espera investir em CRAs que rendam 450 pontos-base acima do CDI, e 65% do portfólio já está comprometido com operações que rendem este percentual.