A XP iniciou a cobertura do setor de petroquímica com uma recomendação de ‘compra’ para a Unipar e ‘neutra’ para a Braskem — apesar do ciclo petroquímico jogar contra as perspectivas do setor no curto prazo.
“Estamos cautelosos em relação ao setor dado que o ambiente de baixos preços/spreads deve continuar nos próximos trimestres e não vemos isso completamente refletido nos números do consenso,” escreveram os analistas André Vidal e Helena Kelm.
Neste cenário, a XP vê a Unipar melhor posicionada que a Braskem – e negociando a múltiplos menores, o que justifica o ‘buy’. A Unipar vale R$ 8 bilhões na Bolsa; a Braskem, R$ 19,6 bilhões.
Para os analistas, a Unipar tem resultados mais resilientes; uma melhor conversão de free cashflow; projetos de autogeração de energia renovável e pequenas expansões que compensam parte dos ventos contrários do setor. A companhia também tem um balanço mais forte (uma posição de caixa líquido em comparação a uma alavancagem de 13,3x da Braskem).
“Do lado negativo, a Unipar deve ter uma pressão na geração de caixa livre do ano que vem por conta do ciclo de capex, que deve levar o pagamento de dividendos para o mínimo exigido pelo estatuto até 2025, e a operação na Argentina tem riscos idiossincráticos,” diz o relatório.
“Já a Braskem tem ativos únicos (ela domina o mercado brasileiro e tem unidades competitivas nos EUA e México) e iniciativas promissoras para o médio e longo prazo.”
No relatório, os analistas dizem ainda que consideram “perigoso” negociar com base nas notícias de M&A envolvendo a Braskem.
“A saga para a venda do controle da Novonor na Braskem tem se desenrolado há mais de cinco anos. O evento geológico em Alagoas, discussões de valuation, e os vários players envolvidos na potencial transação levaram a uma situação de não-resolução que não parece ter um fim à vista,” diz o relatório. “E mesmo que uma transação ocorra, ela não necessariamente vai beneficiar os minoritários: a Petrobras pode decidir exercer seu direito de preferência, transformando a Braskem numa estatal, ou o um player privado pode comprar o controle mas não disparar o direito de tag along.”
A XP vê a Unipar negociando a 5,7x EV/EBITDA para este ano e a 6,4x para o ano que vem, abaixo de seus principais peers. Nas contas da corretora, a companhia negocia a um free cashflow yield de 2% para o ano que vem e 15% para 2025.
“Os dividendos devem cair para o mínimo exigido no curto prazo, mas voltar a 15% ou 20% a partir de 2025, caso não haja nenhum M&A ou novo ciclo de crescimento,” escreveram os analistas.
O preço-alvo da XP para a Unipar é de R$ 105, um upside potencial de 31% em relação ao preço de tela. O preço-alvo para a Braskem é de R$ 27, em comparação aos R$ 24,15 de hoje.
A XP disse esperar um ano desafiador pela frente, dada a combinação de demanda fraca e sobreoferta, principalmente na China. A estimativa dos analistas é que uma normalização — com os preços/spreads chegando no patamar do meio ciclo — possa acontecer a partir de 2025, ainda que alguns participantes do mercado achem que isso só acontecerá em 2026.