O ADR da Petrobras sobe 10% em Nova York no after hours depois da empresa reportar um resultado acima das melhores expectativas.
A companhia antecipou dividendos relativos a 2021 totalizando R$ 31,6 bilhões.
Em outras palavras: a Petrobras está gerando tanto caixa que pode se dar ao luxo de declarar dividendos antes de haver terminado o ano, “sem comprometer a trajetória de redução de seu endividamento e sua liquidez,” segundo a própria companhia.
O EBITDA recorrente veio 10% acima do consenso de mercado.
A relação entre a dívida líquida e o EBITDA ajustado dos últimos doze meses — a principal métrica de endividamento — caiu de 2,03x para 1,49x entre o primeiro e o segundo tri, atingindo a menor alavancagem desde o 3T11.
Mas na margem, a foto é ainda melhor.
A dívida líquida da Petrobras terminou o trimestre em US$ 53 bilhões, e a geração de caixa recorrente — em termos anualizados — chegou a US$ 48 bilhões.
Com isso, a alavancagem da Petrobras está agora ao redor de 1,1x — em linha com peers globais e uma fração dos 5x de seis anos atrás, quando a companhia estava em meio ao turbilhão da Lava Jato.
A produtividade da empresa já está próxima dos benchmarks globais. A Petrobras produziu 19% a menos que a Shell no primeiro semestre deste ano (3,37 milhões de barris de óleo equivalente por dia vs. 2,73 milhões), mas teve um fluxo de caixa livre apenas 5% menor (US$ 19,1 bi vs. US$ 18,1 bi).
O resultado de hoje coroa cinco anos de um dos turnarounds mais públicos e sofridos da história corporativa brasileira. De lá para cá, a Petrobras reinventou sua governança, livrou-se de ativos não essenciais e cortou custos na carne.
Os presidentes da Petrobras nesse processo foram Pedro Parente, Ivan Monteiro, Roberto Castello Branco e agora Joaquim Silva e Luna.
Anualizando o lucro líquido reportado hoje, a Petrobras está negociando a um múltiplo preço/lucro de 5,3x.
Seria uma oportunidade de compra gritante e incontestável, não fosse os perigos que sempre rondam a coisa pública no Brasil.
Três dos principais candidatos à presidência no ano que vem — Jair Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes — continuam a nutrir uma visão populista sobre a estatal.
Os incentivos do Planalto de usar a Petrobras como instrumento de políticas públicas permanecem, e cobrem o arco da direita à esquerda, seja com pressões por subsídios ao diesel, ao gás de cozinha, ou resistência a uma diminuição ainda maior no tamanho da companhia.