A Petrobras está negociando mais um empréstimo internacional — desta vez de 8 bilhões de dólares.

A origem será a mesma: a China.

(A propósito, a empresa ainda não revelou as condições do empréstimo de 3,5 bilhões de dólares do China Development Bank que conseguiu no início do mês.)

A Petrobras já havia acenado com esta possibilidade quando publicou o Fato Relevante sobre o acordo com os chineses, dizendo que havia “a intenção de desenvolver novas cooperações no futuro próximo.”

A interlocutores, o comando da empresa tem demonstrado uma autoconfiança desconcertante para os outsiders, que tendem a achar que o buraco da Petrobrás é mais embaixo. Em vez do tom mais conservador que muitos interlocutores esperam encontrar, a dupla Aldemir Bendine-Ivan Monteiro está vendendo otimismo, e o mercado tem respondido.

A empresa tem reiterado a investidores que ‘tem mandato’ para aumentar o preço da gasolina quando achar necessário. Obviamente, a dúvida no mercado é se o clima político, que já está ruim e ainda pode piorar com a alta do desemprego, permite que este mandato seja efetivamente executado.

Finalmente, quando falam da venda de ativos, o CEO e o CFO têm se mostrado confiantes de que há um grande comprador que resolve a parada.

Adivinhe quem.

Enquanto isso, a empresa tem chamado fornecedores acostumados a receber com 30 dias e dito que, daqui por diante, pagará em 120 — noves fora os atrasos que já estavam acontecendo.

A medida pode reduzir a necessidade de capital de giro da Petrobras em algumas dezenas de bilhões de reais ao longo de um ano.

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Alguns filólogos afirmam tratar-se de uma lenda, mas muita gente no Ocidente diz que, na palavra chinesa para ‘crise’ (‘wei-ji’), um caractere representaria ‘perigo’ e o outro, ‘oportunidade’. A ideia desta ambiguidade é tão poderosa que os presidentes John F. Kennedy e Richard Nixon usaram-na repetidamente em discursos.

Pode até ser lenda, mas, para a China, a ‘crise’ da Petrobras está com toda a cara de transformar a lenda em realidade.

Chinese_word_for_crisis.svg Em chinês tradicional (acima) e simplificado (abaixo): o sentido de ‘crise’ depende de para quem você pergunta.