A Zerezes, uma marca independente de óculos, está dando uma guinada de 180 graus em seu modelo de negócios: de varejista tradicional com lojas em shoppings, está se transformando numa marca digital — tentando repetir no Brasil o sucesso que a Warby Parker teve nos EUA.
A transição foi acelerada pela pandemia, que obrigou os fundadores a fechar temporariamente as lojas onde faziam 80% das vendas e apostar tudo no ecommerce.
Para tornar seus óculos mais acessíveis, a Zerezes investiu em lentes próprias, verticalizando 100% do negócio e aumentando substancialmente as vendas de óculos de grau.
“No online, o preço é um dos aspectos de maior impacto na decisão de compra,” o CEO Rodrigo Latini disse ao Brazil Journal. “Na maioria das vezes, é a primeira vez que a pessoa está comprando online; para ela se convencer, o custo dessa novidade tem que ser eficiente.”
Dominado por multinacionais como Essilor e Luxottica, o mercado de lentes óticas tem muitos intermediários, o que faz com que o gap entre o custo de produção dos óculos de grau e o preço ao consumidor final seja muito grande.
Ao criar suas especificações e terceirizar a produção, a Zerezes reduziu em 50% o preço das lentes, hoje vendidas por R$ 150 no site e nas lojas da marca. A queda nos preços fez as vendas de lentes multiplicarem por 12x, com o share dos óculos de grau subindo de 50% para 80% da receita.
Para 2021, o plano é baixar o custo das armações e conseguir vender um óculos de grau completo por menos de R$ 450 (metade do preço de um Rayban com uma lente básica da Essilor).
A Zerezes faturou R$ 10 milhões ano passado, 50% a mais que em 2019, e espera triplicar a receita este ano, com mais da metade das vendas vindo do online.
A estratégia D2C da Zerezes é rara no mercado de óculos, onde boa parte das grandes óticas (e mesmo marcas independentes como a Livo e a Fuel) cresceram baseadas no modelo de franquias.
Dos R$ 25 bilhões que o setor movimenta por ano no Brasil, apenas 1,15% vem das vendas online, segundo a Euromonitor. Nos EUA, essa penetração chega a 13%.
O grande benchmark dos brasileiros é a Warby Parker, uma marca de óculos de Nova York que cresceu com uma estratégia focada num branding poderoso e na expansão digital.
Em sua última rodada, em agosto, a Warby Parker levantou US$ 245 milhões e foi avaliada em US$ 3 bi. Seus investidores incluem a Durable Capital Partners de Henry Ellenbogen, T. Rowe Price e D1 Capital Partners.
Fundada em 2012, a Zerezes nasceu como um projeto de faculdade de Hugo Galindo e Luiz Eduardo Rocha, dois amigos que cursavam design na PUC-Rio. No início, o grande diferencial da marca, além do design, era o material — os óculos eram produzidos com madeiras reaproveitáveis e extremamente leves.
Depois de alguns anos vendendo para amigos e conhecidos, a Zerezes conseguiu uma vitrine importante: a FARM, marca carioca do Grupo Soma, fez um pedido grande e colocou os óculos à venda em algumas de suas lojas.
Em 2016, Hugo e Luiz Eduardo decidiram abrir a primeira loja num shopping e chamaram Rodrigo, um ex-analista de ações, para tocar a expansão. De lá para cá, a marca abriu cinco lojas (todas no Rio), entrou no mercado de lentes e multiplicou o faturamento por 10x.
Agora, a Zerezes está em conversas iniciais com fundos e investidores para uma rodada de capital que dará tração à estratégia digital. A startup está levantando um ‘bridge’ e planeja um Series A de até R$ 5 milhões em meados do ano.
A empresa já tem geração positiva de caixa há alguns anos e teria condições de financiar a expansão com capital próprio, mas quer buscar investidores que tragam inteligência e networking para acelerar a expansão digital.
Os planos para este ano: investir três vezes mais em equipe e cinco vezes mais em marketing digital, além de abrir três flagships, todas em São Paulo.