Quando era CEO da Gol, Paulo Kakinoff sofreu os dois maiores sinistros da história da aviação mundial: os problemas com o Boeing 737 Max 8 e a pandemia, que deixou todos os aviões no chão.

Agora, ele vai para o outro lado do balcão, emitindo apólices como CEO da maior seguradora brasileira de automóveis.

12078 2257a5ea c9d2 b061 1754 be0dd04fdbfeA Porto anunciou agora há pouco que Kakinoff vai substituir Roberto Santos, que estava no cargo de CEO desde 2018 e passará a ocupar um assento no conselho.

A mudança passa a valer a partir de janeiro do ano que vem, depois que Kakinoff finalizar um período sabático. Além disso, Roberto havia sinalizado ao conselho que gostaria de fazer uma transição “mais suave” e gradual. 

Kakinoff não é um novato na seguradora: ele já faz parte do conselho desde março de 2020 e atua em cinco comitês – auditoria, marketing, pessoas, remuneração e risco integrado.

“O mercado em geral gosta de CEOs de companhias aéreas, porque é um dos negócios mais voláteis e difíceis de gerir que existem,” disse um gestor comprado na ação.

Além do board da Gol, Kakinoff também faz parte dos conselhos da MRV, Vamos, Suzano, Grupo Simpar e da Cocal, uma empresa privada de energia renovável. Segundo uma fonte a par do assunto, a ideia do executivo é abrir mão de três destes conselhos quando assumir o comando do Porto (um deles será o da Porto).

Kakinoff passou 14 anos como CEO da Gol, de 2008 a meados do ano passado.

A transição no comando da Porto já era relativamente esperada. Roberto tem 62 anos e o estatuto da seguradora limita a permanência como CEO até os 65 anos, aos moldes do estatuto do Itaú, que tem 43% do capital da empresa. 

A mudança no comando vem num momento de virada operacional para a Porto. No ano passado, a companhia sofreu com um aumento relevante das despesas com sinistros, basicamente por conta da elevação rápida e inesperada dos preços dos carros usados. 

Ao longo do ano, a seguradora foi reajustando os preços para compensar esse aumento; a melhora na sinistralidade começou a aparecer nos resultados do quarto trimestre.  

“Agora eles estão surfando esse momento excelente de sinistralidade baixa, e com os preços dos carros começando a cair,” disse o gestor.

A ação da Porto sobe 18% nos últimos 12 meses, contra uma queda de 2% no índice Bovespa no período. A companhia vale R$ 15,3 bi na Bolsa e negocia a 8x o lucro esperado para os próximos 12 meses.

A Porto também deve se beneficiar do novo incentivo do Governo para a volta dos carros populares, que deve gerar uma redução de cerca de 10% nos preços dos carros zeros e, consequentemente, reduzir o preço dos usados também.

Do ponto de vista estratégico, o maior desafio de Kakinoff será dar continuidade à estratégia de diversificação da seguradora. Há três anos, a Porto vem investindo em novos negócios nos segmentos de saúde, bancos e serviços. 

No primeiro tri, essas novas verticais já responderam por 30% do faturamento.