O economista Paulo Guedes, um dos primeiros investidores de private equity no setor de educação, está voltando às compras.

Hoje na Bozano Investimentos e um dos sócios fundadores do antigo Banco Pactual, Guedes ficou conhecido no setor pelos investimentos bem sucedidos na Anima e na antiga Abril Educação, hoje Somos Educação.

No mês passado, seu fundo Bozano Educacional II pagou cerca de R$ 100 milhões por 30% do grupo NRE Educacional, que tem cinco universidades com foco em cursos de medicina em Tocantins, Minas Gerais, e Piauí, e 30% da Medcel, que oferece cursos preparatórios para residência.

O fundo é o embrião da BR Health, um veículo de consolidação de instituições de ensino voltadas para saúde que Guedes planeja listar na Bovespa nos próximos anos.

Paulo GuedesAgora, o fundo está na reta final para a compra de uma fatia de 40% da Cruzeiro do Sul, dessa vez em parceria com a Gávea Investimentos, de Armínio Fraga. A transação está em fase de due diligence e o vencedor deve ser conhecido nas próximas semanas.

Os vendedores são a gestora inglesa Actis, que comprou 37% do capital da Cruzeiro em 2012 por R$ 180 milhões, e a família Naddeo, fundadora da Unicid, que faz parte do grupo e tem outros 3%.

A Cruzeiro do Sul tem oito instituições de ensino superior concentradas no Estado de São Paulo, como a Universidade Cruzeiro do Sul, a Unicid e a Universidade de Franca. As duas últimas têm cursos de medicina.

Em 2015, a Cruzeiro do Sul faturou R$ 690 milhões, um alta de 18% em relação ao ano anterior, e seu lucro líquido cresceu 88% para R$ 81 milhões. Este ano, a empresa deve ter uma geração de caixa (EBITDA) de R$ 200 milhões, com margem acima de 25%.

Com 150 mil alunos, a Cruzeiro é um dos ativos mais cobiçados do mercado por sua escala, o que posiciona seu comprador para novos movimentos de aquisição.

Além disso, como já teve um investidor externo, o grupo está com a casa arrumada, sem os problemas de auditoria e integração encontrados em redes menores.

Outros potenciais interessados não toparam comprar uma fatia minoritária. O fundo de private equity Advent e a rede americana DeVry chegaram a fazer ofertas indicativas por 100% do negócio. Mas esbarraram na resistência do professor Hermes Figueiredo e da família Padovese, que juntos têm 60% do negócio e esperavam um cheque maior, com prêmio de controle.

A empresa é avaliada no mercado em pouco mais de R$ 1 bilhão. A proposta indicativa de Bozano e Gávea pela fatia minoritária gira em torno de R$ 450 milhões.  Se concretizado o negócio, as duas gestoras entrariam com uma participação de 50% cada uma.

Na Bozano, os recursos viriam de um fundo de R$ 800 milhões captado no fim de 2014 e que tem como principal investidor a Bertelsmann, empresa alemã de mídia e educação.  A parceria com Armínio Fraga, de quem Guedes é amigo de longa data, ocorre por causa do tíquete alto. Os dois gestores já avaliaram outras aquisições em conjunto, como a Iuni, que a família Galindo vendeu para a Kroton em 2010.

Guedes, que se associou à Bozano em 2013, ganhou dinheiro no setor de educação comprando fatias minoritárias e vendendo depois do IPO.  Em 2010, ele pagou R$ 226 milhões por 19% do capital da Abril Educação e revendeu a posição para o GIC, fundo soberano de Cingapura, por R$ 607 milhões em 2014.

Na Anima, comprou 30% por R$ 100 milhões em 2012; para efeito de comparação, dois anos depois a Península, o family office de Abílio Diniz, pagou cerca de R$ 140 milhões por 6% do negócio.

A Cruzeiro do Sul vinha ensaiando uma abertura de capital nos últimos dois anos, mas esbarrou nas condições de mercado. A Actis optou, então, pela venda direta, mas a empresa está pronta para uma listagem nos próximos anos.