Sim, nós vamos doar dinheiro do nosso bolso a alguns candidatos nessas eleições. Inclusive já escolhemos quais. 

Não, não ficamos malucos.

Essa decisão, ao contrário, é profundamente racional. Doar para políticos que inspiram confiança e representam as propostas em que acreditamos é um dos melhores investimentos que podemos fazer. E é fácil entender essa lógica.

O ponto de partida é aceitar que eleições custam dinheiro. Torcer o nariz para isso é negar a realidade. É fato que as estratégias políticas mudaram, que a comunicação pelas redes sociais é mais eficiente, que a Lava Jato deve provocar uma renovação natural nas urnas. Ainda assim, o dinheiro tem peso inegável em uma campanha. Quem participa do processo eleitoral de perto sabe que este é um fator decisivo para os candidatos. Principalmente ao Legislativo.

O próximo passo é justamente enxergar que as eleições legislativas – principalmente para deputados estaduais e federais – têm impacto muito maior na vida do País do que imaginamos. A crise em que o país se enfiou começa e termina no Legislativo. Não há “jeitinho”, atalho ou malabarismo que resolva nossos problemas estruturais sem passar pelo Congresso. Crise fiscal? Reforma previdenciária. Crise de representatividade? Reforma política. Crise de segurança? Unificação das polícias – e, sim, seria necessária uma emenda constitucional para isso também.

Por fim, temos de entender que a ojeriza à atividade política que a população justificadamente sente favorece os políticos tradicionais. Os velhos caciques partidários se beneficiam do distanciamento de todos nós. Quanto maiores as barreiras à entrada de candidatos honestos e preparados, mais fácil a vida daqueles que são o oposto disso.

Este ano, com a proibição das doações de empresas, cada real fará ainda mais diferença nas campanhas. Elas, no geral, terão menos verbas, e o fundo eleitoral público tende a se concentrar na mão dos caciques partidários. Faça o teste. Primeiro, pense naqueles políticos que definitivamente não merecem seu voto. Depois vá ao site do TSE e veja o quanto esses candidatos estão recebendo do fundo partidário, e quanto os novos candidatos – os que representam a renovação – receberam da máquina. Você perceberá que – como sempre – regras feitas para moralizar a política estão tornando ainda mais difícil a vida de quem quer melhorá-la.

Por tudo isso, as doações individuais serão mais importantes do que nunca. Escolher bem seu voto e tentar influenciar positivamente pessoas próximas é sempre importante. Mas o momento exige mais. Contribuir financeiramente para a campanha de bons candidatos é, na nossa opinião, o engajamento político de maior impacto nessas eleições.

O valor importa menos: cada um de nós tem suas possibilidades. Mas o ato de escolher um (ou alguns) candidato(s) para doar nunca representou tanto. Você estará fazendo algo de concreto para melhorar o País – e a vida de milhões de outros brasileiros.

As doações da sociedade civil são um fenômeno profundamente democrático, uma prática corrente em quase todas as democracias consolidadas, da França ao Canadá. Contribuições individuais são uma maneira de sustentar a democracia por meio das ideias das pessoas comuns. São uma forma de participar da política, ao invés de apenas reclamar. São um sinal de civilidade, de envolvimento, de crença na democracia.

Da mesma forma, é um sinal de amadurecimento aceitar que nem todos que optam pela carreira política são desonestos ou mal-intencionados. Certamente não são. E, neste momento, temos provavelmente a melhor safra de candidatos da nossa história. Movimentos que começaram na sociedade civil tiveram o mérito de encontrar pessoas extraordinárias dispostas a se dedicar a melhorar esse sistema que incomoda profundamente a todos nós.

Conhecemos ao longo desse processo dezenas de candidatos ao Legislativo cujas histórias, capacidade e motivação nos enchem de esperança de que é possível, sim, esperar um sistema político melhor. São exemplos como o da jovem paulistana que saiu da Vila Missionária para se graduar em astrofísica em Harvard e quer tentar, como deputada, tornar acessível à maioria sua trajetória de exceção. E tem uma chance. São dezenas de casos assim. Dizer que a política é um lugar de gente que não presta e por isso não merece o seu envolvimento é o mesmo que dizer a essas pessoas: voltem para suas casas, a política não é para vocês.

Nossa crença é simples. Vote e convença as pessoas a votar. Fale a elas sobre a importância do voto e da crença na solução democrática. (Para aqueles que anularam o voto nas últimas eleições, pergunte o quanto isso ajudou a melhorar as coisas.) Mas, se você pode e quer fazer mais do que isso, doe a um candidato ao Legislativo, de preferência um que esteja comprometido com a mudança. Eles existem, e em número muito maior do que podemos imaginar.

Você não será nenhum maluco por fazê-lo.

Eduardo Mufarej é fundador do RenovaBR.

Mauricio Bittencourt é sócio da VELT PARTNERS.

Daniel Goldberg é sócio da Farallon Capital Management.

Este artigo expressa suas opiniões pessoais.