Algumas empresas e bancos de investimento dizem que gostam de contratar apenas ‘PhDs’: ‘Poor, Hungry and Desperate to get Rich.’
Agora, um estudo publicado no fim de dezembro parece endossar essa tese, pelo menos na indústria de gestão de fundos. Segundo o paper, gestores de fundos de ações com origens mais humildes entregam resultados consistentemente maiores que aqueles que já nasceram ricos.
Os pesquisadores Oleg Chuprinin, da Universidade de New South Wales, e Denis Sosyura, da Universidade de Michigan, fizeram um amplo levantamento da renda familiar durante a infância de 387 gestores e a rentabilidade de fundos de ações dos Estados Unidos comandados por eles entre 1975 e 2012.
A conclusão é que os gestores cujas famílias estavam entre as 20% mais pobres da amostra entregaram um retorno 1,22% superior ao ano do que aqueles que figuravam entre os 20% mais ricos. (Para isolar o ‘efeito-gestor’, os autores fizeram ajustes nos resultados, ponderando critérios como volatilidade e restrições de mandato.)
Os números dão uma chancela empírica à percepção de que a herança – seja da fortuna ou da rede de contatos – facilita a entrada e o avanço na carreira. E mostram que, para progredir sem essa bagagem, quem vem de baixo precisa se esforçar e entregar mais.
“Nossos achados sugerem que aqueles que nasceram mais ricos enfrentam barreiras à entrada menores na gestão de ativos, e alguns gestores menos competentes acabam conseguindo ingressar na profissão”, afirmam Chuprinin e Sosyura.
Para corroborar a relação, eles fizeram uma análise detalhada de como funcionam os mecanismos de progressão de carreira no setor. Partindo da base de dados da Morningstar, inferiram que um indivíduo era promovido sempre que os ativos sob sua administração ou as comissões que recebia dobravam de um mês para outro. Então, cruzaram essa informação com o desempenho da carteira administrada nos últimos 60 meses.
Como esperado, a performance passada se mostrou um bom indicativo de promoção. Em média, um aumento de 0,1 ponto percentual no alfa (o retorno acima do benchmark) gerado pelo gestor aumenta suas chances de promoção em 6%.
Mas essa relação vai ficando cada vez menos clara quanto mais abastada é a família do gestor em questão – ou seja, a progressão na carreira de quem já nasceu rico têm menos relação com o desempenho da carteira.
E, contraintuitivamente, a performance superior dos mais pobres ocorre mesmo com uma educação, em teoria, de menor qualidade. Os mais ricos entram em universidades mais bem conceituadas – e, obviamente, mais caras. Mas os mais pobres gastam mais anos sentados nas salas de aula, em busca de diplomas de mestrado, doutorado e PhD.
“Isso sugere que os mais pobres confiam na educação como um propulsor social”, concluem Churprinin e Sosyura.
Apesar dos achados relevantes, o estudo tem uma limitação. Como os Estados Unidos liberam informações individuais dos censos apenas 72 anos após sua publicação, a base mais recente disponível para capturar os dados familiares refere-se a 1940 (a pesquisa considerou fundos até 2012, apenas). Por isso, o corte foi de gestores nascidos antes de 1945 – boa parte deles, já fora da ativa.
Uma sondagem menos precisa sobre essa relação para gestores mais novos sugere que pouca coisa mudou. Chuprinin e Sosyura utilizaram a mensalidade da faculdade frequentada pelos gestores como um indicativo de renda familiar — a premissa é de quanto maior a mensalidade, maior a renda da família.
E concluíram uma correlação negativa com o retorno dos fundos. Ou seja: estudar nas universidades mais caras não é garantia de melhor desempenho futuro. Ou, em outras palavras: na hora de escolher seu gestor, vale mais a pena saber suas origens do que a faculdade que ele frequentou.