O IPO da PagSeguro — a plataforma de pagamentos do UOL — está tendo uma demanda cavalar, e os bancos coordenadores estudam aumentar a faixa de preço nesta terça.
É impossível saber o tamanho exato da demanda real. Como sempre acontece em ‘hot deals’, vários investidores inflam suas ordens de compra antecipando que sua reserva sofrerá rateio. Ainda assim, a transação já se configura como uma das ofertas brasileiras mais quentes da memória recente.
Os números variam com o interlocutor, mas fontes próximas à transação diziam na segunda-feira à noite que a oferta estava coberta em mais de 12 vezes, com a maior parte do book ‘a mercado’ (tradução: investidores colocando ordens de compra a qualquer preço dentro da faixa).
Se saísse no topo da faixa atual — de US$ 17,50 a US$ 20,50 — a operação daria à PagSeguro um valor de mercado de R$ 20,8 bilhões (assumindo um câmbio de R$ 3,3).
Se os bancos aumentarem o topo da faixa em 20%, a empresa seria listada na Bolsa de Nova York com um valor de mercado de US$ 7,5 bilhões (ou R$ 25 bilhões), um terço do valor de mercado da Cielo, que tem quase 50% do mercado (a PagSeguro tem 3%).
Uma comparação de múltiplos mostra por que investidores estão achando o IPO ‘barato’. No topo da faixa atual, a PagSeguro teria um valor de mercado igual a 22,5 vezes seu lucro estimado para 2018 e 16,5x o lucro de 2019. (A Cielo negocia a 17x 2018 e 16,5x 2019.) Em outras palavras: apesar da PagSeguro estar crescendo mais que a Cielo, ela estaria negociando nos mesmos múltiplos da líder de mercado quando se olha para 2019.
Mais de uma fonte envolvida na transação disse “nunca ter visto” uma transação tão quente envolvendo uma empresa brasileira.
A oferta não foi registrada na CVM e portanto não está sendo vendida a investidores no Brasil.
Na história recente dos IPOs brasileiros, esta é a segunda oferta em que os investidores locais — o eixo Leblon-Itaim — tiveram zero poder de barganha no processo. No caso da PagSeguro, a decisão do controlador de listar a companhia em Nova York definiu o público-alvo preferencial. Na oferta anterior, do Burger King Brasil, a companhia listou seus papeis no Brasil, mas concentrou os esforços de venda nos investidores internacionais.
O sucesso da oferta da PagSeguro também vai levantar uma outra questão: por que uma operação tão bem sucedida não foi listada no Brasil, levando a B3 (a Bolsa de São Paulo) a perder milhões de reais em taxas de listagem e negociação, os chamados emolumentos?
A oferta vai injetar mais de US$ 1 bilhão no caixa do UOL, cujo maior acionista é a holding da família Frias, que publica a Folha de São Paulo. Os coordenadores da oferta são Goldman Sachs, Morgan Stanley, Bank of America-Merrill Lynch, Citibank, Credit Suisse, Deutsche Bank e JP Morgan.