Em seu primeiro trimestre completo desde a aquisição da AES Brasil, a Auren Energia reportou o maior EBITDA de sua história e reduziu sua alavancagem, hoje a principal preocupação do mercado.

A geradora de energia – controlada pelo Grupo Votorantim e a CPP Investments – fez um EBITDA de R$ 1,2 bilhão no primeiro tri, 65% maior que no mesmo período do ano passado (numa base pro forma) e 20% acima do consenso. 

O aumento expressivo teve a ver com três fatores, o CEO Fábio Zanfelice disse ao Brazil Journal.

Fabio Zanfelice ok

A companhia teve uma melhora importante na performance operacional de seus ativos, tanto os hidrelétricos quanto eólicos; a comercializadora teve um resultado acima do esperado; e a Auren capturou sinergias importantes do processo de integração da AES.

Nos ativos hidrelétricos, o chamado Generation Scaling Factor (GSF) foi de 107%, em comparação aos 90% do primeiro tri do ano passado. Traduzindo: a Auren gerou 7% mais energia nestes ativos do que a expectativa de geração de longo prazo.

Já nos ativos eólicos, a melhora se deu basicamente na disponibilidade dos parques, que ficou em 92% no tri — uma alta de 160 basis points ano contra ano.

A melhora na disponibilidade se deu por conta do trabalho que a Auren tem feito nos ativos incorporados da AES, que estavam operando com uma disponibilidade de menos de 80% na época da aquisição, em outubro passado.

De lá para cá, a companhia já elevou a disponibilidade desses ativos para 90,5% e a meta é subir para 95% até o final do ano, se aproximando dos números dos ativos da Auren (96%). 

A melhora da performance teve a ver com a “própria filosofia de manutenção que a AES tinha,” disse o CEO da Auren. “Eles tinham excelência nos ativos hidrelétricos, mas nos eólicos não tinham a estrutura adequada. Além disso, fizemos um investimento em equipamentos e peças e começamos a monitorar os ativos em tempo real, algo que a AES não fazia.”

No trimestre, a Auren capturou R$ 56 milhões em sinergias de pessoas, materiais, serviços e operações (PMSO), depois de já haver capturado R$ 43 milhões no quarto tri.

A companhia tem dito ao mercado que espera capturar R$ 250 milhões em sinergias no primeiro ano pós-aquisição — o dobro do que havia calculado inicialmente.

“Já criamos toda a nova estrutura organizacional, com os ajustes no quadro de pessoal, e agora estamos trabalhando nas sinergias de sistemas de TI, que é algo que leva mais tempo,” disse Fábio. “Mas nosso cronograma é concluir todas as integrações até no máximo setembro.”

Outro destaque do trimestre foi a comercializadora, que fez um EBITDA de R$ 165 milhões, mais de 2x maior que o do primeiro tri de 2024.

O CFO Mateus Ferreira disse que 36% desse EBITDA veio de operações arbitrando os preços de energia nos diferentes submercados em que a companhia atua. 

“Estávamos short em Nordeste e long em Sudeste, e os preços se comportaram como previmos, o que gerou esse ganho,” disse ele.

Com o EBITDA acima do esperado no trimestre — e a manutenção da dívida líquida em R$ 18,5 bilhões — a Auren reportou uma redução na alavancagem de 5,7x no quarto tri para 5x agora.

A meta da companhia é levar a alavancagem para entre 3x e 3,5x EBITDA ao longo dos próximos 3 ou 4 anos.

No curto prazo, a redução da alavancagem virá do aumento do EBITDA, mas depois do fim do capex do parque eólico Cajuína III a expectativa é que a companhia volte a ter um fluxo de caixa livre positivo, que também contribuirá para a redução do endividamento.

Cajuína III vai demandar um capex de R$ 750 milhões – a maior parte disto no final da obra – e a expectativa da Auren é concluir o parque em mais dois anos.

Fábio disse que a companhia não avalia um follow-on ou aumento de capital para acelerar o processo — o que poderia levar a uma diluição da base acionária num valuation deprimido. (A ação da Auren caiu de R$ 12 para cerca de R$ 8,80 desde o anúncio da aquisição, com a empresa agora valendo R$ 9,2 bilhões na Bolsa).

“A Auren é uma geradora de caixa muito forte e com uma conversão de EBITDA em caixa de uns 50%. Além disso, estamos com a energia contratada pelos próximos três anos, então não vai ter muita volatilidade de receita,” disse o CEO. “O balanço vai desalavancar naturalmente ao longo do tempo, sem a necessidade de aumento de capital.”

No mês passado, a companhia colocou no mercado uma debênture de R$ 2 bilhões a um custo de 99,5% do CDI e prazo de 10 anos. 

Com essa captação e uma parte do dinheiro em caixa, a Auren pré-pagou 60% do empréstimo-ponte de R$ 5,4 bi que fez para comprar a AES Brasil — que tem um custo de CDI + 1,1% no primeiro ano e vai subindo até o vencimento em 2028.

O CFO notou que apesar da companhia ter uma dívida líquida de R$ 18,5 bi, só 20% dela é atrelada ao CDI. O restante é IPCA+ — o que, para a empresa, é uma dívida prefixada, já que seus contratos são todos corrigidos pela inflação. 

“O aumento da taxa Selic aumenta nosso custo financeiro, mas só em 20% da dívida. Então estamos bem protegidos,” disse o CFO.