Ser um chef celebridade não basta para garantir o sucesso de uma rede de restaurantes. No ano passado, Jamie Oliver precisou injetar £ 12,7 milhões [US$ 16,5 milhões] para manter sua rede Jamie’s Italian em operação e evitar sua falência. O tamanho da dívida: £ 71,5 milhões de libras.
Numa rara entrevista ao Financial Times, Oliver declarou que foi pego de surpresa no meio de uma filmagem. “Ficamos simplesmente sem caixa”, disse Oliver, revelando sua decepção e contrariedade com o management. “Foi uma surpresa. Isso não é normal, em nenhum negócio. Você tem reuniões trimestrais, reuniões de conselho. As pessoas que devem gerir esse negócio devem gerir esse negócio.”
O chef empresário teve duas horas para transferir £ 7,5 milhões e evitar o fechamento um ou dois dias depois. Nos meses seguintes, foram mais £ 5,2 milhões, além de 12 unidades fechadas e 600 demissões. A reestruturação tem sido comandada por Paul Hunt, cunhado de Oliver cuja biografia — oops! — inclui uma condenação por insider trading em 1999.
A Jamie’s Italian saiu de um único endereço em Oxford em 2008 para 43 unidades em diversos países em 2016, incluindo uma no Itaim. Aclamada pela crítica por introduzir ingredientes de qualidade e a preço razoável, a rede cresceu rápido demais — e nem sempre nos endereços mais adequados ao perfil.
Segundo o FT, Oliver tem um patrimônio avaliado em £150 milhões. É o chef celebridade mais bem sucedido do mundo e, também, o autor de não-ficção mais vendido do Reino Unido: seus livros de culinária descomplicada e despojada já venderam mais de 37 milhões de exemplares.
Mau aluno na escola, Oliver começou a vida nas cozinhas lavando panela no pub do pai, em Essex. No final dos anos 90, comandava o The River Café em Londres quando foi descoberto por uma equipe de TV e convidado para estrelar um programa.
Na época, sob o comando do New Labour de Tony Blair, Londres vivia uma espécie de renascença culinária, com os britânicos aprendendo que a boa comida ia além do steak and kidney pie (a torta de rim que é um pilar da cozinha inglesa tradicional).
Em dois anos à frente do The Naked Chef, Oliver já era uma celebridade. Comprou briga com o McDonald’s e virou um militante da comida saudável nas escolas. Mas junto com a fama vieram as críticas. Sua campanha contra a obesidade foi acusada de ser “anti-pobre” e de envergonhar os gordos.
Mais recentemente, um produto pré-pronto com o nome de um prato jamaicano (“jerk rice”) foi acusado de apropriação cultural indevida por usar o nome da receita sem incluir os ingredientes típicos.
Na entrevista ao FT, Oliver admite não saber exatamente a causa da crise no negócio: “ainda estamos tentando entender. Mas acho que os gestores que tínhamos na época estavam tentando administrar uma tempestade perfeita – aluguéis, tarifas, aumento dos custos dos alimentos, aumento da renda mínima, Brexit. Muitas coisas acontecendo.”