O CEO do Google, Sundar Pichai, anunciou há alguns dias que vai investir US$ 1,2 bilhão na América Latina ao longo dos próximos cinco anos — reforçando sua infraestrutura digital num mercado estratégico para a Big Tech.
Hoje, o Google deu os detalhes de como pretende gastar parte desse dinheiro no Brasil.
Num evento chamado Google for Brasil, a empresa apresentou projetos que vão de um novo centro de engenharia a um acervo digital de Gilberto Gil; de mais um cabo submarino a uma inteligência artificial capaz de conversar pelo telefone.
Abaixo, os principais insights do evento.
ENGENHARIA
O Google disse que vai criar um novo centro de engenharia dentro do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que é parte da USP.
Com 7.000 metros quadrados, o centro terá capacidade para até 400 funcionários e vai ser usado para desenvolver tecnologias de setores estratégicos a nível global, incluindo privacidade e segurança online.
Este será o segundo centro de P&D do Google na América Latina. Desde 2006, a empresa tem uma sede em Belo Horizonte que é focada no desenvolvimento de tecnologias para seu buscador — liderada por muitos anos por Berthier Ribeiro-Neto, hoje o diretor de engenharia do Google para América Latina.
O escritório do Google será construído num prédio histórico do IPT, que data de 1936. A previsão é que o centro abra as portas até o fim de 2024.
Eduardo Tejada, o diretor sênior de engenharia do Google, disse que o centro vai “colocar a gente mais perto do ambiente de pesquisa acadêmica e mais perto das principais tecnologias do mercado.”
CABO SUBMARINO
Outro investimento relevante do Google será a construção de mais um cabo submarino para reforçar sua infraestrutura de cloud no Brasil.
O cabo Firmina (uma homenagem à romancista brasileira Maria Firmina dos Reis) será o maior do mundo, ligando o Brasil aos Estados Unidos e se estendendo até a Argentina e Uruguai.
A infraestrutura, em desenvolvimento há dois anos, deve entrar em operação no ano que vem.
O Google disse que os cabos submarinos permitem acesso rápido e de baixa latência tanto a produtos cotidianos como o Youtube quanto a seus serviços de cloud.
O cabo se soma a outros três que o Google já construiu no Brasil nos últimos anos: o Júnior, que vai do Rio a São Paulo; o Tannat, que vai de Santos até Maldonado, no Uruguai; e o Monet, que vai de Boca Raton, na Flórida, até Santos, passando por Fortaleza.
Desde 2017, o Google já investiu R$ 1,6 bilhão para reforçar sua infraestrutura de cloud no País.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
O Duplex, uma tecnologia de inteligência artificial que usa processamento de linguagem natural para fazer tarefas do dia-a-dia, está chegando ao Brasil.
O Google disse que a tecnologia já está sendo testada em três funções: fazer ligações para atualizar informações sobre os horários de funcionamento de lojas e restaurantes; automatizar tarefas na internet, como a compra de ingressos de cinema; e consulta dos locais de votação, numa iniciativa junto com o TSE.
Desde que começou a testar a tecnologia no Brasil, mais de 50 mil empresas brasileiras receberam uma ligação da inteligência artificial; hoje, o Google tem feito 200 ligações por dia.
No evento, o CEO Fabio Coelho mostrou um vídeo de uma conversa da IA com um de seus clientes. A naturalidade com que o Duplex respondia ao interlocutor usando expressões como “hmm” e “aham” tirou risos da plateia.
DIVERSIDADE
O Google for Startups quer diminuir o déficit de programadores negros. Para isso, a aceleradora de startups do Google criou um programa que oferece bolsas de estudo para negros interessados em começar uma carreira em programação.
A meta é formar 200 desenvolvedores negros de baixa renda nos próximos 12 meses, e depois ajudá-los a se inserir no mercado.
O Google for Startups já tinha uma iniciativa para ajudar empreendedores negros: o Black Founders Fund, que já investiu US$ 5 milhões em startups fundadas por negros.
GILBERTO GIL
Como nem só de tecnologia vive o Google, a empresa disse que vai lançar uma mostra digital em homenagem à vida e a obra de Gilberto Gil.
Hospedada na plataforma Google Arts & Culture, a mostra vai reunir um acervo de mais de 41 mil imagens distribuídas em 140 seções, além de 900 vídeos e gravações históricas que foram digitalizadas.
A mostra também vai dar vida a um álbum inédito de Gil, gravado em 1982 em Nova York e que só foi descoberto há dois anos. O álbum havia sido perdido na volta de Gil ao Brasil e tem gravações inéditas do compositor.
Essa mostra “permite um acesso novo e a possibilidade de uma reprogramação de todo esse trabalho,” disse Gil, o autor de Parabolicamará, que em 1990 já falava da disrupção digital. “Ele cria uma dimensão de compartilhamento nova da minha obra.”