NOVA YORK – Abrir um restaurante em qualquer parte do mundo é uma enorme incerteza. Aqui em Nova York, esse problema é multiplicado pelo pouco espaço disponível, o alto custo dos imóveis e impostos, além do mais importante: como atrair clientes na cidade mais cosmopolita do globo?

Na Big Apple, dificilmente um restaurante será novidade. Em um local onde se encontram todas as culinárias do planeta e inúmeros restaurantes de todos os tipos premiados pelo Guia Michellin, destacar-se é um desafio quase impossível para novos chefs e restaurateurs.

Com a cena gastronômica cada vez mais competitiva, muitos empresários do ramo vêm adotando uma estratégia diferente para tentar se estabelecer na cidade. Ao invés de apostar tudo em um restaurante fixo sem saber se os clientes virão, os novos chefs estão iniciando projetos pessoais em restaurantes pop-up, locais provisórios onde os cozinheiros podem testar seus pratos e entender a clientela.

Se der certo, partem para abrir um local fixo.

Este foi o caminho que os quatro restaurantes abaixo trilharam. Começaram em cozinhas provisórias, dividindo o salão com outros estabelecimentos até que o sucesso os colocou no radar das grandes publicações gastronômicas, um sinal de que o projeto estava maduro o suficiente para ser de longo prazo.

Após o período de testes, esses restaurantes se estabeleceram como algumas das principais novidades da cena gastronômica de Nova York, onde o novo envelhece rapidamente. 

Sunn’s

O conceito de “tapas coreanas” te assusta? Não deveria.

Assim como a culinária espanhola tem as tapas e a culinária árabe tem o mezze, os coreanos têm o banchan, pequenas porções de itens quentes e frios servidos com uma porção de arroz. 

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Em um apertado salão de tijolo aparente na divisa do Lower East Side com Chinatown, o Sunn’s oferece um cardápio enxuto tanto nos pratos quanto bebidas – apenas algumas poucas cervejas e uma carta de vinho focada em brancos que harmonizam melhor com os fortes temperos coreanos – com destaque para o banchan.

As pequenas porções têm variações sazonais, porém alguns itens atravessam o ano e são fixos, caso da leve e macia salada de batata com pêra asiática – que traz a doçura necessária para o prato – ou o tofu ao estilo coreano dubu-jeon que convenceu até mesmo este repórter de que é possível fazer um bom prato com o ingrediente. A ideia é você passar horas com os amigos degustando as porções, enquanto bebericam os ótimos vinhos da casa.

Além do banchan, o restante do curto cardápio conta com outros seis itens, com destaque para o Ssam, conceito coreano para pratos em que o cliente faz o seu roll. No Sunn’s, o prato vem acompanhado de um brisket caramelizado no shoyu.

Endereço: 139 Division St

 

Bong (na imagem de destaque)

O Kreung foi um dos restaurantes pop-up de maior sucesso de Nova York; durou oito anos atraindo curiosos para conhecer a culinária Khmer do Cambódia. O Bong, localizado em meio a uma zona residencial em Crown Heights, no Brooklyn, é a evolução natural da antiga casa tocada pelos chefs Chakriya “Cha” Un e Alexander “Chapi” Chaparro.

O cardápio do restaurante de paredes verde-amarelas é enxuto ao ponto que uma mesa de quatro pode pedir todas as opções sem cometer excessos. O salão pequeno, de sete mesas, é complementado por algumas outras poucas na parte externa. 

Da cozinha semi-aberta para a clientela saem camarões fritos com cascas crocantes envoltos em um doce molho de manga, um peixe frito enrolado em alface, coberto com ervas e mergulhado em molho de tamarindo com alho, além de uma bochecha de porco misturada com pedaços de melão e um molho apimentado.

O grande carro-chefe do local é o Mama Kim’s Lobster, batizado em homenagem à mãe de Un, que costuma fazer algumas aparições na cozinha. A lagosta inteira é servida banhada em um molho de gengibre e lulas e acima de uma porção de arroz que absorve todo o molho do prato e os pedaços da lagosta.

Endereço: 724 Sterling Pl, Brooklyn

 

Ha’s Snack Bar

Nascido de um pop-up, o Ha’s Snack Bar foi classificado pelo New York Times como o restaurante mais “empolgante” de Nova York em 2025. 

Apesar do hype, os chefs Anthony Ha e Sadie Mae Burns-Ha dizem que o Ha’s ainda não é o projeto final. No começo de dezembro, o cardápio do que hoje é o Snack Bar foi dividido. Parte ficou no restaurante atual – que manteve o nome – enquanto a outra parte foi para o Bistrot Ha, a menos de um quarteirão da casa original.

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Para acalmar quem temia perder os pratos icônicos do restaurante, a equipe manteve alguns destaques do cardápio do Ha’s Snack Bar – caso da ostra servida com maionese de ovo. Porém, o alívio maior foi quando confirmaram que os caracóis ao molho de manteiga de tamarindo também ficaram.

O prato é um resumo da proposta do Ha’s de unir a culinária do sudeste asiático com a francesa. O sedoso molho de tamarindo traz uma mistura equilibrada entre doce, salgado e ácido – que unido ao sabor terroso dos caracóis gera uma sequência de sabores única. 

Endereço: 297 Broome St 

 

Border Town

Único restaurante na lista que ainda não inaugurou, o Border Town também é o único que vai abrir para o café da manhã. Os chefs Jorge Aguilar e Amanda Rosa ganharam fama em Nova York ao abrir uma série de pop-ups e participar de feiras, onde vendiam tacos de café da manhã e tortilhas de farinha.  Resultado: criaram um cult following de clientes que seguiam os chefes em todos os eventos pela cidade.

Agora, o casal está prestes a abrir sua primeira loja física em Greenpoint, no Brooklyn, prevista agora para  janeiro. A ideia é manter os pratos que fizeram a fama do local e trazer novidades como os tacos de guisado e burritos de café da manhã e almoço. Os chefs também planejam ter uma produção própria de embutidos.

Inicialmente o restaurante só funcionará durante o dia, mas o plano é alargar o horário de funcionamento para a noite e começar a oferecer petiscos mexicanos, cervejas e uma carta de coquetéis focada na tequila.

Endereço: 189 Nassau Avenue, Brooklyn