O mundo dá voltas, e às vezes acaba no mesmo lugar.
No setor de telecom, um seleto grupo de pessoas sabe que esta não é a primeira vez que se discute fatiar e vender a TIM Brasil — o projeto que, se vingar desta vez, vai pagar o bônus deste ano no BTG Pactual.
(Como se sabe, o banco negocia com a Oi, a Claro e a Telefonica uma oferta conjunta pela operadora italiana, uma operação complexa cujo sucesso reduzirá de quatro para três as opções de telefonia celular no Brasil.)
Em 2007, quando a Telecom Itália desistiu de participar do grupo de controle da Brasil Telecom e vendeu sua participação para o Citigroup, a matriz italiana se encontrava em dificuldades financeiras e se preparou para vender, também, a TIM Brasil, que já era listada na Bovespa. A America Móvil (Claro) era candidatíssima à compra, mas a Telefonica tinha outros planos.
Arquiinimiga da Claro, a Telefonica não podia admitir que os mexicanos comprassem a TIM, mas estava impedida de fazer ela mesma uma oferta porque seu CEO havia assumido um compromisso junto aos acionistas de não gastar mais que 3 bilhões de dólares em aquisições naquele ano. Quem quisesse comprar a TIM, na época, teria que desembolsar algo da ordem de 23 bilhões de reais, incluindo o prêmio de controle.
Foi então que o management da Brasil Telecom, então controlada pelo Citigroup e os fundos de pensão (liderados pela Previ), sonhou grande.
Assim como as teles planejam fazer hoje, a Brasil Telecom fez um acordo com a Telefonica para fatiar a TIM e vender uma parte dela aos espanhóis — a parte que o CADE provavelmente não permitiria que ficasse com a Brasil Telecom e mais o Estado de Minas, pois a Telefonica ainda não havia comprado a Telemig Celular. Obviamente, essa fatia não poderia sair por mais de 3 bilhões de dólares, o limite da Telefonica. A Brasil Telecom ficaria com todo o restante.
Para financiar a jogada da Brasil Telecom, o Santander botou na mesa uma linha de crédito de 20 bilhões de reais. (O cheque era tão grande que estourava os limites locais do banco, e teve que ser aprovado pela matriz na Espanha.)
Para evitar que os mexicanos comprassem, não havia tempo sequer de montar um sindicato de bancos, como é a praxe nestes casos. O Santander deu uma carta dizendo que garantiria os recursos (uma exigência da Telecom Italia, que do contrário não topava nem conversar com a Brasil Telecom), e montaria o sindicato depois. A maioria dos bancos nunca ficou sabendo do que se passou.
A operação fazia sentido porque, assim como hoje, a TIM não era endividada. A Brasil Telecom também não, e ainda por cima gerava bastante caixa.
Por que a operação não saiu? A Telefonica, que parecia estar a bordo do plano, encontrou outra alternativa: comprou uma participação no controle da própria Telecom Italia, dentro do limite de 3 bilhões de dólares, e com isso conseguiu impor que a Telecom Italia não vendesse a TIM, afastando o risco dos mexicanos fazerem uma oferta mais alta e levar a empresa.
É este nó societário que está sendo desamarrado agora, e que deve levar, finalmente, ao fatiamento e venda da TIM.
A menos que, mais uma vez, alguém saia do script.