BRASÍLIA – A Origem Motos — uma startup que fabrica motos elétricas aqui na capital e as aluga num modelo as a service — acaba de levantar R$ 100 milhões numa rodada que vai energizar seu plano de expansão, que inclui colocar mais de mil motos nas ruas ao longo do próximo ano.
A rodada Série A foi liderada pela Atmos Capital e teve a participação da consultoria Visagio, do family office dos sócios da Bain Capital, em Boston, e da Bee Cap, do ex-CFO da Energisa Cláudio Brandão Silveira, que já havia investido em rodadas anteriores e assessorou a Origem na transação.
A Origem está apostando num mercado que tem recebido bem menos investimentos do que os carros elétricos. A Honda, por exemplo, ainda não anunciou planos de uma moto elétrica; já a Harley-Davidson lançou uma marca de motos elétricas, a LiveWire, há apenas cinco meses. De toda forma, as comparações podem não ser pertinentes, já que o mercado de motos nos EUA é focado em modelos high end, e não em motos populares.
Hoje, a Origem é a única projetista e fabricante de motos elétricas no Brasil, e compete basicamente com marcas gringas, como a asiática Gogoro. (A Voltz — uma startup brasileira que também vende motos elétricas — importa os veículos e apenas revende no Brasil).
Por enquanto, a Origem está focando no aluguel de suas motos para frotas corporativas.
Companhias como Santander e Stone pagam R$ 1 mil por moto por mês para usar os veículos da Origem. Não há custo adicional: o pacote já inclui seguro, IPVA, manutenção, rastreador, além do custo de carregar as baterias quantas vezes o motorista quiser.
“O mercado de motos elétricas tem dois grandes problemas: a autonomia e o preço,” Diogo Lisita, um dos fundadores, disse ao Brazil Journal. “Para resolver o problema da autonomia, o que alguns fabricantes faziam era colocar mais uma bateria, ou baterias maiores, mas isso acabava piorando ainda mais a questão do preço.”
A Origem está tentando resolver essa equação com uma solução inovadora, mas complexa de operar.
Ela constrói diversas estações de troca de bateria que ficam espalhadas em postos de gasolina, shoppings e supermercados. Nessas estações, o motorista retira a bateria usada da moto e a coloca numa espécie de gaveta, que automaticamente libera uma nova, já carregada.
O desafio é gerir todas essas estações de forma que o motorista sempre encontre uma bateria carregada quando parar na estação, e que sempre tenha uma estação perto quando sua bateria acabar.
“Nosso trabalho aqui não é só a moto, mas a moto com a solução de recarga. Construir a infraestrutura é tão importante quanto as motos,” disse o fundador. “Para resolver isso, nossa moto é conectada à internet e conversa com a bateria o tempo todo, assim como a estação de troca de bateria.”
Essa inteligência permite que a Origem monitore em tempo real o que está acontecendo em toda a frota e em suas estações de troca. Ela consegue ver, por exemplo, quantos motos estão em determinado bairro em dado momento, como está a carga das baterias e quantas baterias estão disponíveis nas estações da região.
“Com isso, eu posso tomar decisões: ‘Recarrega mais rápido essas baterias aqui porque a chance de alguém querer trocar elas nessa região é alta’… ou o contrário: ‘Não tem ninguém nesse bairro nesse momento, então recarrega o mais devagar possível, ou nem recarrega agora, porque vamos recarregar à noite quando o preço do kWh é mais barato.”
Fundada em 2017, a Origem nasceu da cabeça de três engenheiros (dois de telecom e um mecânico) que trabalharam juntos numa empresa que fabricava maquininhas de cartões.
Nos primeiros seis meses, Diogo, Pablo Estrela e Felipe Borges pesquisaram o mercado para entender o problema. Depois, mais um ano construindo o protótipo e validando o produto no Inmetro e outros órgãos. A fabricação das primeiras motos aconteceu só dois anos depois da fundação da empresa.
Até agora, a Origem produziu 50 motos (todas alugadas) e instalou 15 estações de troca no Distrito Federal. Diogo diz que com os R$ 1 mil mensais, “a conta fecha com folga pra gente.”
Segundo ele, a Origem tem um custo de produção muito baixo, já que suas motos são fabricadas com menos componentes que uma moto elétrica tradicional.
“Uma moto a combustão em geral tem 2.000 peças, uma elétrica tradicional tem umas 600. A nossa tem menos de 200,” disse o fundador. “Além disso, no primeiro semestre do ano que vem estamos indo pra Zona Franca de Manaus, o que vai baixar ainda mais nosso custo.”
A capitalização de hoje vai financiar os planos da startup de colocar mil motos na rua em 2022 — quando espera fazer uma receita de R$ 10 milhões — além de 200 estações de recarga (que vão somar mil baterias). O plano de negócios prevê que, ao final desse ciclo, a empresa atinja o breakeven.
Na expansão, a startup também pretende trabalhar com entregadores de apps como Uber Eats e Loggi, e não apenas frotas corporativas. A ideia é fechar uma parceria com essas plataformas e estimular a adoção das motos em suas bases.
“Eles vão poder atrelar a marca a uma solução sustentável. Além disso, o nosso modelo é de custo fixo, o que gera uma previsibilidade maior para os entregadores, e reduz o custo em comparação com a moto a combustão.”
Antes de conseguir a rodada, os fundadores bateram às portas de inúmeros fundos de VC, que recusaram o projeto por se tratar de uma empresa de hardware — e, em alguns casos, porque a empresa está muito longe do Itaim.